11/11/2022 - 13:24 | última atualização em 16/11/2022 - 14:35

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Campanha 'Advocacia sem machismo' discutiu fenômeno da masculinidade tóxica

Evento debateu origens e ramificações de comportamentos misóginos na sociedade

Felipe Benjamin

Realizada pela Caixa de Assistência da Advocacia do Rio de Janeiro (Caarj) no Plenário Evandro Lins e Silva, na sede da Seccional, na noite de quinta-feira, dia 10, a oficina 'Advocacia sem machismo: Masculinidade tóxica', discutiu a perpetuação de comportamentos masculinos dentro da sociedade e é parte da série de dez encontros organizados pela Caixa de Assistência que busca debater temas que perpassam a advocacia e refletem comportamentos machistas. 

"A ideia dessa campanha é que possamos discutir, nesta casa, esse machismo estrutural, tão presente na nossa sociedade, inclusive entre nós, advogados", afirmou a presidente da Caarj, Marisa Gaudio, responsável pelo comando do evento.

"Queríamos muito ter os homens falando, em parte porque quando os homens falam as pessoas prestam mais atenção, o que é mais um indicativo do machismo estrutural. Tentamos mostrar não apenas o que acontece, mas o que podemos fazer para mudar e ajudar nesse processo de desconstrução. Essa é uma campanha permanente da Caixa de Assistência para a qual convidamos a OABRJ e associações como a Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) e a Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim). É importante que todos divulguem e acompanhem os eventos dessa campanha".



A mesa do evento contou com a presença da diretora-executiva da Caixa e conselheira da OABRJ, Priscilla Nunes; do presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OABRJ e coordenador do Grupo de Trabalho de Assistência à Comunidade LGBTQIA+ da Caarj, Henrique Rabello, e do tecnólogo em Segurança Pública Social, Márith Eiras Scot.

"O tema de hoje nos possibilita fazer algumas reflexões sobre a masculinidade tóxica, mas é importante refletir e analisar se há alguma masculinidade que não seja tóxica", afirmou Rabello.

"Quando falamos de masculinidade, falamos sobre a forma como os homens são socializados e a forma do estabelecimento de diferenças entre homens e mulheres que por si só orienta toda a construção das masculinidades no Ocidente. A socialização masculina é construída nos chamados locais monossexuados, a partir da rejeição de tudo o que lembra o universo das mulheres e das crianças". 

O presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero citou conceitos apresentados pelos sociólogos Daniel Welzer Lang e Maurice Godelier para explicar como a socialização masculina reproduz valores misóginos através dos tempos.


"É nesses locais monossexuados que os códigos e ritos relacionados à performance do que se espera de um homem começa a ser organizado: homens não cruzam as pernas, não dobram as mãos, não falam fino e não conversam com mulheres. A ideia principal é rejeitar qualquer associação com as mulheres e isso transforma os homossexuais e os fracos nos 'não-homens'", detalhou.



Um exemplo dado por Rabello foi o caso do goleiro Bruno: "Preso depois de cometer um crime bárbaro contra a mãe de seu filho. E ao ser liberado, várias mulheres vão ao seu encontro recepcioná-lo. Quantas mulheres recebem visitas dos seus parceiros e namorados quando estão em situação de privação de liberdade? Existe um contrução cultural na qual as relações sociais entre as mulheres se constroem a partir de uma perspectiva de hierarquização na qual os homens sempre devem se colocar numa posição acima das mulheres".

Mestre em Ensino pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Márith Scot falou sobre os desafios na formação de policiais militares dentro de um cenário marcado pela masculinidade tóxica.

"O mais importante para quebrar o clima de masculinidade tóxica é conversar sobre o assunto", afirmou Scot.

"Se perguntarmos a qualquer homem sobre quais seriam as características que formam um 'homem de verdade', a resposta seria de que o homem deve ser cavalheiro com as mulheres e fazer coisas que o representariam como um homem bom. No entanto, a sociedade os impõem outros valores. Os meninos não podem chorar ou brincar de boneca. Esse machismo não é algo reproduzido exclusivamente pelos homens, as mulheres também acabam reproduzindo e perpetuando essa cultura da masculinidade tóxica. Eu trabalho na Polícia Militar, uma entidade muito machista que reproduz quase todos os tipos de masculinidade tóxica que se pode imaginar, e no próprio grupo da PM eu ouvi críticas por estar vindo aqui falar sobre a masculinidade tóxica, assim como muitos outros, como mostram nossas pesquisas, até hoje tem total desconhecimento da Lei Maria da Penha e reproduzem preconceitos contra mulheres em suas atuações como policiais".

Veja abaixo as datas e temas das próximas palestras ou acesse o painel de Eventos aqui do portal para ver a programação completa das oficinas.

Oficina 'Advocacia sem machismo'

22/11 - Diversidades  e Violações de prerrogativas por razão de gênero

28/11 - Como atender a mulher vítima de violência?

01/12 - Como defender seu cliente sem machismo?

05/12 - Legítima defesa da honra e o caso Doca Street

12/12 - Casos concretos (com abordagem da caso Mariana Ferrer e outros)

15/12 - Peças práticas

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