A OABRJ celebrou o Dia Mundial da África nesta quinta-feira, dia 25, com um evento no Salão Nobre Antonio Modesto da Silveira, na sede da Seccional, que reuniu diversos nomes e discutiu os desafios da advocacia preta no século XXI, além de celebrar a ancestralidade africana. A data celebra o evento em 1963, no qual chefes de Estado africano se reuniram para a criação da Organização da Unidade Africana, substituída em 2002 pela União Africana. "Me criei com minha bisavó, que nasce sob a égide da Lei do Ventre Livre, e ela me contava, todos os dias, o que se passara na África e depois aqui no Brasil com aqueles, que como ela, eram nascidos de ventres escravos", afirmou a diretora de Igualdade Racial da OABRJ, Ivone Ferreira Caetano, que comandou o evento. "Na escola vivenciei o que acontecia com as crianças negras, e tudo era diferente do que eu tinha aprendido em casa. A Humanidade surgiu na África, e isso significa que somos todos negros, sem exceção. Mas o eurocentrismo reforçou a ideia de que os africanos eram um povo sem cultura e sem religião, quando na verdade a cultura e a religião foram roubadas do povo negro. O dia em que tivermos as mesmas oportunidades, vocês verão o quanto somos todos iguais". O evento teve na composição da mesa a vice-presidente da OABRJ, Ana Tereza Basilio; o vice-diretor de Igualdade Racial, Rodrigo Gomes da Mata; a presidente da Advocacia Preta Carioca (APC-Umoja), Angela Borges Kimbangu; a magistrada do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Maria Aglaé Tedesco Vilardo; a conselheira do Fórum Religioso por uma Cultura de Paz do Estado de São Paulo, Bruna Cândido; a advogada e psicopedagoga Luciane dos Santos Rufino, e o presidente da Comissão de Cultura da OABRJ, Welington Benedito Alves Ferreira, que comandou apresentações musicais do Coral da Seccional. Integrantes da APC-Umoja, Daniel Alves e Ana Angélica Barbosa foram homenageados com placas comemorativas, enquanto a Medalha Rosa Negra - concedida pela OABRJ a personalidades que se destacam na condução de importantes trabalhos em garantia de direitos civis fundamentais para a população negra e minorias étnicas - foi entregue a Luciane Rufino, Bruna Cândido, Thatyana Marques de Carvalho e Ingrid Fortunato Neves Combuci. "Este é um dia de reflexão", afirmou a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/Niterói, Jacqueline Santos. "A África é um lar de carinho e esperança e há 60 anos, líderes se reuniram para lutar pela vida de sua população e seu povo, e cabe a nós lutar para que haja uma continuidade. Umoja é isso. É união, é dar as mãos uns aos outros para trilharmos o caminho juntos. Só unidos conseguiremos ir mais longe. No Real Madrid existem outros jogadores negros, mas porque Vinicius Jr é o único que sofre com bonecos enforcados nas ruas? Porque ele é ofendido e sorri. Ser negro é ser feliz, e isso incomoda a branquitude que está acostumada a ver o negro no papel de submisso e se esquece de que todos nós descendemos de reis e rainhas". O evento contou ainda com discursos dos integrantes da APC-Umoja André Rangel, Maria Ferreira, Silvia Campos e Rejane Passos, além da escritora Vilma Piedade. Representando a OAB/Méier, a advogada Lúcia Armênio Leal leu uma poesia em iorubá em homenagem à data. "Nosso maestro Wellington Benedito disse que o amor não tem cor, mas eu, respeitosamente, ouso discordar", afirmou Bruna Cândido em discurso no encerramento da cerimônia. "O amor tem cor sim, e infelizmente, ele é branco, porque a coisa mais difícil é nós, pessoas pretas, nos amarmos e fazermos esse ato de resistência que é beijar seu preto e sua preta na rua. Esse ato todo é uma luta contra o epistemicídio, e para alguém como eu, que vem de São Caetano do Sul, um lugar onde brancos são brancos e pretos são pretos, e onde juízes me perguntam o que estou fazendo ali no lugar dos advogados, é muito importante estar comemorando esta data aqui, empretecendo a OABRJ. Amem as pessoas pretas com atos, e não apenas com plavras nos púlpitos".