02/06/2023 - 16:47 | última atualização em 02/06/2023 - 16:50

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OABRJ sedia evento sobre a Operação Condor

Falta de sanções a participantes de operações militares durante o período da ditadura foi destacada por participantes

Felipe Benjamin



Promovido pelos Estados Unidos como uma aliança das ditaduras militares sul-americanas na década de 1970, o Plano Condor foi tema de um evento realizado pela OABRJ, na noite de quarta-feira, dia 31, no Plenário Carlos Maurício Martins Rodrigues. O evento -  parte integrante de um seminário iniciado no dia 25 pelo Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - foi comandado pelo presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular, Marcelo Chalréo.


"O Brasil teve tratativas com a Argentina antes mesmo da Operação Condor, com o desaparecimento de brasileiros na Argentina e no Chile, o sequestro e desaparecimento de argentinos e uruguaios em território brasileiro, as suspeitas que permanecem a respeito da morte do ex-presidente João Goulart na Argentina, e o apoio ao golpe de Estado chileno de 1973", afirmou o procurador do Ministério Público Federal, Ivan Cláudio Garcia Marx, que participou remotamente do evento.



"O MPF criou, juntamente com a Argentina, equipes conjuntas de investigação formadas por promotores dos dois países. O Brasil foi protagonista na Operação Condor, mas esse protagonismo não se repetiu na sanção dos crimes. Continuamos bem atrás da Argentina e do Chile".

Estiveram presentes na mesa do encontro a representante do grupo Tortura Nunca Mais, Victória Grabois; o professor do Irid Eduardo Serra, e o professor da UFRJ Luís Acosta. O administrador do site Documentos Revelados, Aluizio Palmar, participou de maneira remota. 

"Chamamos a Comissão da Verdade de Comissão do Possível, porque muito pouco foi feito", afirmou Grabois.

"É preciso que todos aqueles que cometeram crimes de lesa-humanidade sejam responsabilizados e processados, independentemente de condenações. Somos o país mais atrasado de toda a América Latina nesse sentido. O Tortura Nunca Mais é filiado à Fedefam, a Federação Latinoamericana de Associações de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, e a cada congresso lá vou eu novemente passar vergonha pelo fato do Brasil, um país continental, não ter, até hoje, responsabilizado um só torturador. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi responsabilizado, mas numa ação cível, não criminal".

A participação do governo brasileiro nas ações da Operação Condor foi destacada por Aluizio Palmar, que evidenciou o chamado "Arquivo do Terror", a descoberta de diversos documentos em uma delegacia de polícia na periferia da capital paraguaia, Assunção, que revelavam o envolvimento de militares brasileiros em diversas ações no continente.

"A Operação Condor foi um produto da Guerra Fria e os pesquisadores que trabalham com o tema já reconhecem que mesmo antes dela ser implementada, já havia operações conjuntas entre militares das ditaduras latinoamericanas, vários deles formados na Escola das Américas, no Panamá", afirmou Palmar.


"Na ata de criação da Operação, o Brasil não aperece, por medo dos bancos internacionais que financiavam as obras do governo, mas o Brasil esteve sempre ativamente envolvido nas ações de vigilância, sequestro, tortura, assassinato e desparecimento de militantes políticos na região. Essa participação está registrada em documentos, que revelam operações até mesmo em países da Europa, onde estavam os exilados".

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