Nelson Joaquim

24/01/1945 - 14/06/2020

Vice-diretor de Igualdade Racial para quem a educação era o centro de tudo. Mais professor do que doutor, lecionou universitários e concurseiros. Amava a natureza, Martinho, Emicida e marshmallow

“A gentileza, a forma alegre e positiva como ele olhava para as coisas eram as características mais fortes do meu pai. Acordava muito cedo todos os dias e ia ver o sol, recitava mantras e falava com a natureza. Ele amava demais esse contato, adorava entrar no mar. 

Corria e quando era mais novo, jogava futebol de várzea na Baixada Fluminense, onde cresceu. Passou a infância toda brincando livremente na rua com os amigos em São João de Meriti. 

Aproveitou bem a vida. Era viciado em marshmallow, gostava muito de samba, amava Martinho da Vila, Leci Brandão, Zeca Pagodinho. E gostava que eu lhe apresentasse os novos nomes. Ouvia Emicida e fez questão de levar minha mãe ao show do Marcelo D2, de quem era fã.

Foi casado por mais de 40 anos com minha mãe, sua única esposa, que se foi em 2016. Somos dois filhos. Ano passado, fomos comemorar o Dia dos Pais numa roda de samba e contei a ele que eu voltaria a morar no Rio, eu senti que eu precisava deixar São Paulo, onde eu havia aceitado uma proposta de trabalho. Tocou “Espelho” (João Nogueira), que fala sobre paternidade, e ele começou a chorar, ficou muito emocionado. Agora vejo como eu precisava vivenciar os seus últimos momentos.  

Era professor aposentado de Direito Civil, Introdução ao Estudo do Direito e História do Direito em diversas universidades.

Na advocacia, atuou na área cível. Era um humanista, dedicava-se aos direitos públicos que afetavam o recorte racial e as questões inclusivas.  Sempre fez parcerias com advogados negros e esteve próximo de pessoas negras que representassem esse ideal de inclusão e de aliados desta luta que é coletiva. Ele combinou com minha mãe que o primeiro filho teria algum dos nomes do ex-presidente de Moçambique Samora Machel. Meu nome é Luana Machel Joaquim Silva. 

Desde novinho gostava de dar aula, teve um curso preparatório para concursos a preço popular no Méier,  que ele não conseguiu levar à frente apesar da grande procura; deu aula no Coletivo Justiça Negra Luiz Gama.  No contato com os clientes, ele se colocava primeiro no papel de acolhimento do professor. 

Adorava estar com jovens, ia a escolas dar palestras. Fazia questão de quebrar a aura elitista que a advocacia tem. Para ele, a educação era o centro de tudo, sobretudo no recorte racial. Sempre falava que era mais professor do que advogado. Em vez de chamá-lo de ‘doutor’, preferia que usassem ‘professor’, pois representava melhor sua essência”. 

Depoimento da filha, a advogada Luana Machel Joaquim Silva, à jornalista Clara Passi.

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