30/09/2008 - 16:06

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Artigo: Crime sem castigo - José Carlos Tórtima

Crime sem castigo

 

 

José Carlos Tórtima*

 

Um dos pontos sobre o qual vinham insistindo os parlamentares do Partido Democrata para aprovar o trilionário plano do governo americano de socorro ao sistema financeiro era a punição dos responsáveis pelo desastre. E quem são eles? Ninguém menos do que os altos executivos das instituições financeiras, que no afã de conquistar seus polpudos prêmios em bônus pelos resultados contábeis apresentados, repassaram para o mercado, em forma de títulos mobiliários, uma massa colossal de créditos duvidosos.

 

Para o leitor entender: um banco emprestava dinheiro para o sujeito comprar sua casa, passando esse crédito adiante para as chamadas companhias securitizadoras, que, por sua vez, tra 560 nsformavam o mesmo crédito em títulos que eram vendidos para o grande público. Só que muitos desses créditos eram oferecidos por quem não tinha condição de honrar a dívida e os bancos sabiam disso, ou deveriam saber, diante do cadastro suspeito dos devedores, muitos com histórico de inadimplência.

 

Mas, como os imóveis tinham enorme valorização, mesmo os potenciais maus pagadores conseguiam renovar suas hipotecas, endividando-se cada vez mais. Até que um dia a bolha imobiliária estourou, os preços despencaram, os mutuários pararam de pagar e quem tinha comprado os tais títulos lastreados naquelas operações de crédito ficou com o mico na mão.

 

Muita gente foi levada à ruína, mas dos dirigentes dos bancos que promoveram a festança dos títulos podres, e cuja a conta está sendo paga pelo contribuinte americano, pouquíssimos se acanharam de receber os tais bônus pelos resultados obtidos antes do colapso do sistema. Pense nisso, caro leitor, quando ouvir que o Brasil é o país da impunidade.

 

 

*José Carlos Tórtima é presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ.

 

O artigo foi publicado no jornal O Dia, em 30 de setembro de 2008.

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