09/02/2009 - 16:06

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Artigo: Não resolve - Wadih Damous

Não resolve

 

Wadih Damous*

 

 

Uma das heranças da Era Vargas foi a regulamentação das relações de trabalho. Mesmo que a legislação a respeito, que data de mais de meio século, necessite ser atualizada de tempos em tempos, ela representou um salto de qualidade em comparação com a realidade da chamada República Velha.

 

A legislação trabalhista veio proteger o lado mais fraco. Não elimina a negociação, mas estabelece patamares mínimos a partir dos quais ela se dá.

 

Ao não permitir que o acordado, em algumas hipóteses, prevaleça sobre o legislado, a lei protege o lado mais fraco.

 

Na época em que foram aprovadas as leis trabalhistas, houve reação parecida com a de agora.

 

Diziam os saudosos das condições vigentes na Velha República que, se postas em prática, as medidas quebrariam as empresas ou, pelo menos, diminuiriam sua competitividade e isso comprometeria o nível de emprego, tornando as coisas ainda piores para os trabalhadores.

 

Agora, com a crise econômica, essas ideias voltam com maior força. Trata-se de fazer com que prevaleça o negociado sobre o legislado.

 

Não mais o negociado individualmente - como na República Velha, é verdade - mas por um sindicato de trabalhadores.

 

Isso não muda muito as coisas. Dada a fragilidade do movimento sindical brasileiro, na maioria dos casos a retirada da proteção do Estado teria consequências perversas. A chamada "flexibilização" nos remeteria de volta a uma situação próxima à da República Velha. As empresas fixariam, de forma praticamente unilateral, os direitos que se dispõem a conceder aos empregados.

 

Hoje, a tal "flexibilização" só serviria para a manutenção das margens de lucro do setor privado, mesmo com a crise.

 

 

*Wadih Damous é presidente da OAB/RJ.

 

Artigo publicado no jornal O Globo, em 9 de fevereiro de 2009.

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