Um bilhão de famintos José Carlos Tórtima* Recente relatório da FAO, agência da ONU que cuida do problema da produção e distribuição de alimentos no mundo, apresenta um quadro desolador sobre a fome ao redor do planeta em 2009. Superando em 11% os índices de 2008, que registrou o já alarmante número de 915 milhões de desnutridos, a fome fustigará este ano, pela primeira vez na História, mais de um bilhão de pessoas. Bem, quaisquer que sejam as causas de tanta miséria e, independentemente das soluções para corrigir as gravíssimas injustiças sociais que a agravam, um fato é indiscutível: temos gente demais para alimentar, vestir, dar moradia, transportar, educar, cuidar na doença, etc. E a Terra já exibe claros sinais de esgotamento de alguns recursos naturais vitais à sobrevivência humana, como a água potável. E a maior parte das florestas já foi devastada para ceder espaço à agricultura, à pecuária e ao crescimento das cidades. É claro que a expansão da atividade econômica para a inclusão social de um bilhão de miseráveis acarretará gravíssimo reflexo ao ecossistemas. Mas, nem por isso, em nome da preserveção ambiental, haveremos de deixar que sucumbam à fome nossos semelhantes que foram excluídos na distribuição dos meios de sobrevivência. Para enfrentar esse dilema, o saudável equilíbrio aponta na direção de políticas que, de um lado, promovam nas regiões mais castigadas pela fome o acesso à comida dos mais pobres, e, de outro, estimulem ali meios de controle da natalidade. Pois é notório que, em todo o mundo, quanto mais aguda a miséria, maior a expansão das populações por ela atingidas. *José Carlos Tórtima é presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-RJArtigo publicado no jornal O Dia, 214 de junho