15/07/2008 - 16:06

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Artigo Wadih Damous: 'Vítimas potenciais'

Vítimas potenciais

 

 

Wadih Damous *

 

A dor dos pais do menino João Roberto foi compartilhada, silenciosamente, em milhões de lares. As lágrimas de tantos outros pais e avós, como em um rito de luto coletivo, representam a possibilidade de que qualquer um de nós poderia ter sido vítima daquela tragédia. E é sobre essa questão que devemos agora, com serenidade, nos debruçar: somos todos vítimas potenciais de uma política de segurança fundada sobre o preceito de que os inimigos devem ser exterminados, já que há uma "guerra a ser vencida".

 

A patética atuação dos policiais durante a operação na Tijuca demonstra isso. Homens despreparados, estimulados a eliminar a qualquer custo os inimigos, realizam uma perseguição. Confundem os carros. Param à frente de seus "suspeitos". Descarregam as armas. E se desesperam ao perceber o que acabaram de fazer, embora tentem ocultar o erro.

 

Erro que nas comunidades pobres do Rio de Janeiro não é uma exceção, é a regra.

 

Só que, quando se mata um inocente nas favelas, não há comoção. Há silêncio. Muitas vezes, até apoio dos que moram distante do horror diário. "Perdas necessárias"... Para quem? Daí ser este o momento de refletirmos a respeito de uma verdadeira política de segurança pública cidadã, pela qual todos serão protegidos por uma polícia eficiente, que zele pela vida e dignidade de todos os cidadãos. E que possamos contar com policiais capacitados, treinados e remunerados para proteger a vida das pessoas e de si mesmos e não somente dos filhos bem-nascidos da sociedade. Homens habilitados para o exercício policial cidadão e não meros soldados de alguma lógica da guerra, segundo a qual somos, todos nós, vítimas potenciais. Este é o desafio.

 

 

* Wadih Damous é presidente da OAB/RJ

 

Artigo publicado no Jornal O Dia, 15 de julho de 2008

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