16/05/2022 - 16:14 | última atualização em 16/05/2022 - 17:31

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Assédio na escola: ex-estagiária procura OABRJ para denunciar

Mais duas estudantes de Colégio da Aeronáutica foram recebidas pela Comissão de Direitos Humanos

Clara Passi

Um dos suspeitos de praticar assédio sexual contra alunas e alunos do Colégio Militar Brigadeiro Newton Braga (vinculado à Força Aérea Brasileira), na Ilha do Governador, teria vitimizado também uma estagiária de Educação Física da UFRJ, que frequentava o colégio para prática de ensino. De acordo com o relato da mulher, mais um nome a procurar a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ depois que os casos vieram à tona, o acusado teria tocado sua coxa durante uma aula, em 2016.

Esta e mais duas adolescentes foram ouvidas pela CDHAJ nesta segunda-feira, dia 16. Estes três novos relatos se juntam aos outros que, em breve, darão corpo a uma denúncia da OABRJ ao Ministério Público Federal.  

“Está provado que existia um grupo de professores no colégio que assediavam de forma permanente. A  escola sabia, não tomava nenhuma medida para coibir este tipo de situação contra jovens de 14, 15 anos à época, o que agrava ainda mais a situação. A OABRJ vai buscar responsabilizar não apenas os professores, mas também a escola”, adianta o presidente da CDHAJ, Álvaro Quintão.

O modo de agir do suposto assediador da ex-estagiária reproduz o dos outros homens apontados como algozes pelas jovens - os principais acusados são professores do Colégio Militar Brigadeiro Newton Braga, mas há funcionários entre os acusados. Além do contato físico não autorizado, há registros de conversas de cunho erótico em rede social. Acuada pelo assédio, a universitária abandonou o estágio, o que colocou a perder um período da faculdade, já que as horas de dedicação ao colégio não foram contabilizadas. 

De acordo com o que foi narrado à membra da CDHAJ Brunella Moraes, que integra o Grupo de Trabalho da Criança, Adolescente e Juventude, a ex-estagiária denunciou o assédio à coordenação da UFRJ, que pediu formalmente uma reunião com a direção da escola da Aeronáutica. No dia marcado, o colégio não enviou representante. 

“O Colégio Militar Brigadeiro Newton Braga foi, no mínimo, omisso. Teve possibilidade de se manifestar, mas não compareceu e parece não ter repercutido a denúncia internamente”, diz Moraes. 

A procuradora da CDHAJ Mariana Rodrigues observa que há um padrão. 

“Observa-se que a escola repetiu o que fez com as demais denunciantes. Alguns casos foram alvo de Inquéritos Policiais Militares e ensejaram a abertura de Procedimentos Administrativos Disciplinares, mas até hoje, nenhum deles chegou a qualquer conclusão”, diz a advogada, lembrando que a inquirição das vítimas se deu de forma também abusiva: cara a cara com o acusado e com o advogado dele, sem ela própria contar com assistência jurídica.  

Um grupo de WhatsApp criado pelos próprios estudantes e ex-alunos tem sido o fórum onde os relatos e prints que evidenciam a conduta dos docentes são compartilhados. Os advogados vêm atendendo as vítimas que, à época do assédio (a maioria ocorreu entre 2014 e 2020), eram estudantes do Ensino Fundamental e Médio.

O ponto de partida para a onda de denúncias foi um movimento no Twitter chamado #exposed, em maio de 2020, que encorajava vítimas de abuso sexual a dividir suas experiências. As denúncias dos estudantes e das estudantes do colégio vinculado à Aeronáutica deram forma a Processos Administrativos Disciplinares (PAD) instaurados no âmbito da escola, em dezembro de 2021, que ainda não foram concluídos.

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