10/05/2022 - 16:28 | última atualização em 17/05/2022 - 17:16

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Caso Ruan: OABRJ pede ao Hospital Municipal Souza Aguiar informações sobre condições em que jovem com deficiência deu entrada

Clara Passi

Representante jurídica da família de Ruan Limão do Nascimento, o jovem com retardo mental leve e dificuldade psicomotora morto sexta-feira, dia 6, na Barreira do Vasco, a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ oficiou à direção do Hospital Municipal Souza Aguiar em busca de informações sobre o estado em que o rapaz de 26 anos deu entrada na unidade hospitalar.  

De acordo com as testemunhas do homicídio, o grupo de policiais à paisana do qual teria saído o disparo que atingiu Ruan transportou o jovem até o hospital na mala de um carro compacto descaracterizado. O mesmo em que esses mesmos agentes usaram para circular pela comunidade momentos antes, numa ação para verificar o comércio ilegal de cobre, como informou a Polícia Militar em nota oficial. 

Os advogados da Ordem querem saber se Ruan já chegou morto ao hospital e identificar os policiais que o acompanharam. 

"Se Ruan ainda estivesse com vida, não havia lógica de socorro colocá-lo na mala de um carro de minúsculo porte. Caso já estivesse morto, o ato reforça a tese de desfazimento de cena do crime. Acreditamos que a resposta do hospital aos nossos questionamentos e a oitiva das testemunhas vão confirmar o relato da comunidade sobre a dinâmica do homicídio e balizar as investigações da Polícia Civil, afastando publicamente a tese de auto de resistência que a PM quis emplacar”, diz o presidente da CDHAJ, Álvaro Quintão. 

Nesta terça-feira, dia 10, a Polícia Civil realiza uma perícia no local do homicídio. 

O primeiro contato da CDHAJ com o caso foi ainda no Instituto Médico Legal, na manhã de sábado, dia 7. Os responsáveis por prestar assistência jurídica à mãe de Ruan, a camareira Bianca Alves Limão, e ao irmão, o porteiro Renan Alves Limão, são a procuradora da comissão Mariana Rodrigues, a coordenadora do Grupo de Trabalho Violência de Estado e Sistema de Justiça Criminal, Fernanda Prattes, e o membro da CDHAJ Márcio Simões Vellozo. O sepultamento de Ruan foi realizado no dia seguinte, domingo, dia 8, Dia das Mães.

Renan conta que Ruan tinha ido cortar o cabelo na localidade conhecida como Favelinha do Café, por volta das 18h30, quando foi baleado  com um tiro de fuzil nas costas, num momento em que não havia confronto.

Na nota que divulgou à imprensa, a Polícia Militar confirmou que policiais do serviço reservado do 4º Batalhão atuaram na Favelinha do Café para verificar o comércio ilegal de cobre e contradisse o relato das testemunhas afirmando que havia confronto durante a abordagem. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada e ouviu os PMs envolvidos.

“Nós da CDHAJ não entendemos por que a investigação vai se dar pela equipe de auto de resistência da Delegacia de Homicídios da Capital, já que o relato da comunidade é de que não havia confronto e a vítima morreu de forma abrupta, num momento de grande movimento na comunidade, no início da noite de sexta, o que demonstra que a comunidade não estava conflagrada”, diz Rodrigues.

“É muito triste uma mãe ter que comprovar a deficiência intelectual de seu filho para justificar que ele não tem qualquer envolvimento com atividade criminosa, não estava armado e que o homicídio não tem contorno de auto de resistência”.

O homicídio de Ruan tem mobilizado a Barreira do Vasco, onde o jovem era querido. O Vasco da Gama, time de Ruan, manifestou pesar no perfil do Twitter. “Ruan era símbolo de alegria e amor ao clube. Desejamos força aos familiares e amigos, e que o caso seja apurado e a justiça seja feita”.

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