05/09/2019 - 15:53 | última atualização em 05/09/2019 - 19:07

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Ciclo da OAB/RJ discute representatividade feminina e negra na imprensa

Clara Passi

O ciclo de palestras “Imprensa, democracia e história: Da abertura política ao governo Bolsonaro”, promovido na Seccional pela Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular (CDSIS) da OAB/RJ e pela Diretoria de Comunicação, abordou, na edição de quarta-feira, dia 4, a parca diversidade de vozes na imprensa. Tanto na abordagem do conteúdo publicado quanto no perfil dos funcionários que atingem postos graduados nos veículos de comunicação. Para a tarefa, foram convidadas a jornalista Flávia Oliveira e Carol Oms. A transmissão do evento está disponível no canal da OAB/RJ no YouTube

Oliveira é colunista do jornal O Globo e comentarista de economia nos telejornais “Estúdio i” e “Edição das 18h”, do canal GloboNews, e "CBN Rio", da rádio CBN. Apresenta a temporada 2019 do programa “Entrevista”, do Canal Futura.

Oms  atuou como repórter do Valor Econômico em São Paulo e Brasília, na cobertura das áreas de economia, política e Poder Judiciário. É diretora-executiva da "Revista AzMina".

A diretora da Mulheres da OAB/RJ, Marisa Gaudio, o secretário-adjunto da Seccional, Fábio Nogueira, e o gerente de Comunicação, Marcelo Moutinho, foram anfitriões. O membro da CDSIS Luiz Peixoto mediou.  

Gaudio fez um paralelo com a luta por mais presença feminina na política. 

“É importante que os espaços sejam ocupados por negros e mulheres etc, tanto no parlamento quanto no jornalismo. Precisamos de mais representatividade, de vozes diferentes, dar espaço para as pessoas trazerem suas ideias. Faz parte da democracia deixar que as pessoas coloquem suas vozes. Não se trata de ‘dar voz’ a elas. A voz já lhes pertence”, disse Gaudio. 

Fábio ampliou o escopo da discussão e tratou dos desafios que a Ordem vem enfrentando diante do clima de fragilidade institucional e ebulição política.

“A democracia está sob ataque de fake news. O desmentido nunca tem mesma proporção da notícia mentirosa”, disse.

Já Peixoto frisou a pertinência do tema diante da percepção geral de que toda causa identitária é vista como ideológica.

Flávia chamou a atenção para a forma monótona como negros sempre foram retratados pelas reportagens e da solidão inerente à posição de uma das poucas mulheres negras a ter avançado na carreira. 

“Houve uma mudança, ainda que aquém da que merecemos e desejamos, na mídia tradicional do ponto de vista da diversidade. As ferramentas tecnológicas têm tido um efeito de pressão por mais visibilidade e representatividade até mesmo nas pautas (da mídia tradicional)”, avaliou.

Oliveira contou que, em 27 anos de carreira, não se lembra de ter sido tão intensamente confrontada - para o bem ou para o mal - em relação a abordagens da mídia tradicional.

“Isso é uma novidade para uma instituição que, historicamente, deteve o monopólio de intermediação entre fonte a primária de informação e a sociedade. Dos anos 1990 para cá, a multiplicidade de tratamento da informação baqueou, inclusive financeiramente, aquelas instituições antes assentadas na acomodação de serem os únicos canais de expressão da sociedade”.

Agora, observou Oliveira, o desafio é a proporcionalidade. 

“Sou a encarnação da representatividade. E já deu para perceber que essa representatividade modesta alcançada por uma , ou mesmo duas, três ou cinco mulheres negras não dá conta da diversidade brasileira. Há muitos matizes e agendas”, disse ela.

Oms contou a trajetória da publicação que dirige, uma revista sem fins lucrativos criada para satisfazer o anseio das leitoras por identificação e por um viés editorial que as contemple. 

“Se você falar de previdência e não falar de mulheres, está contando metade da história. Somos uma sociedade diversa e, como tal, exigimos soluções diversas. Se não houver mulheres ou homens de diversas realidades nos quadros de uma empresa, isso não será possível”, afirmou.

“O Brasil e o mundo dá soluções que são feitas para o homem branco. O cinto de segurança de um carro amassa o seio da mulher, incomoda. Mulheres têm dificuldade de ser diagnosticada com infarto porque os sintomas são feitos para o homem branco”. 

O presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil do Conselho Federal e da OAB/RJ, Humberto Adami, esteve presente ao evento.

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