03/09/2019 - 08:28 | última atualização em 03/09/2019 - 10:15

COMPARTILHE

Coaching jurídico: saiba o que levar em conta ao contratar

Clara Passi

Para onde quer que se olhe há um coach ensinando ferramentas calcadas na autoconfiança e na mudança radical de mentalidade (ou mindset, se quisermos ser fiéis ao léxico desse universo) a alguém que busca alcançar um objetivo qualquer. A onda chegou com força ao universo da advocacia: uma rápida pesquisa no Google sobre coaching jurídico devolve uma miríade de técnicos que oferecem chaves para se dar uma guinada na carreira, conquistar clientes e destacar-se em meio aos mais de 1 milhão e 200 mil colegas inscritos no país. Há vários livros publicados sobre o assunto e até um curso de pós-graduação. 

As seccionais da Ordem já acolhem comissões dedicadas ao tema. A primeira surgiu em São Paulo, em 2017, sob o comando de Afonso Paciléo Neto, dono do Instituto Brasileiro de Coaching Jurídico, referência da área. Congressos vêm lotando auditórios das unidades da Ordem país afora. Os próximos serão na capital paulista (dia 6) e no Recife (dia 12). A comissão do Rio tomará posse na terça-feira, dia 10, com Raquel Castro à frente. Ex-presidente do grupo dedicado ao direito das pessoas LGBT na OAB/RJ, Castro emagreceu 17 quilos com a ajuda de um coaching. Fascinou-se pelas aplicações do método na advocacia, formou-se ela própria em coaching e se dedicará, a partir de agora, a difundir esse conhecimento em palestras gratuitas, em grupo, na Seccional.   

Afonso Paciléo Neto / Foto: Divulgação

Ao buscar os serviços de um coach pela internet, é preciso cautela para não se deixar seduzir por slogans e acabar gastando dinheiro com charlatões, alertam os especialistas. Conselhos de psicologia, nutrição e medicina já se colocaram contrários ao que consideram uma invasão em suas searas e não faltam perfis de sátira nas redes sociais. Um termômetro da polêmica: tramita no Senado uma sugestão de projeto, de iniciativa popular, para criminalizar a atividade do coach ao passo que  foi apresentada ao Portal e-Cidadania um pedido de reconhecimento e regulamentação da profissão, que já é exercida por cerca de 70 mil pessoas no Brasil, de acordo com a International Coach Federation (ICF), a maior associação global desses profissionais. 

“O advogado precisa buscar um coach que também seja advogado, checar o histórico profissional. O coach não dirá o que o coachee deve fazer, desconfie de quem dá caminhos certos. O essencial é trabalhar o que há dentro do próprio coachee para despertar insights”, recomenda Castro. 

Paciléo reforça o conselho: “O coach precisa ter uma trajetória que reflita o sucesso que ele deseja vender. O coach jurídico sério precisa conhecer o Código de Ética da Ordem e outras balizas. Meu trabalho é despertar uma visão empreendedora que identifique oportunidades. Há espaço para o tradicional e o novo na advocacia. Cada um pode ser seu próprio padrão. Só porque se formou advogado precisa falar difícil, por exemplo? Quando se descobre essa chave, o céu é o limite”. 

Ex-presidente da unidade da Ordem em Patrocínio, Minas Gerais, e coachee de Paciléo, Angélica Ferreira conta que o coaching foi um divisor de águas. “Trouxe clareza e segurança sobre minhas qualidades pessoais. Descobri que as decisões estão nas minhas mãos e só dependem de mim. Para  ter sucesso profissional, é preciso saber onde se quer chegar. Nunca mais deixei de ter sessões, que dão segurança ao meu dia a dia. Todo ser humano precisa de alguém que te acompanhe e traga uma visão externa. Meu coach virou meu guru”.

Raquel Castro / Foto: Luciana Botelho

Para Castro, o coaching jurídico veio suprir uma lacuna deixada pelas faculdades, que não têm disciplinas de planejamento de carreira. 

“Muitos advogados se formam e ficam perdidos. Não sabem que área escolher, querem um escritório próprio, mas, ao mesmo tempo precisam de salário. O trabalho de coaching na advocacia visa a ajudar a achar um caminho - seja montar um escritório, ganhar uma promoção, mudar de área”. 

O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas André Mendes reforça a percepção da presidente do grupo de coaching jurídico da OAB/RJ. “O ensino de Direito de grande parte das faculdades é enciclopédico. Um ensino jurídico focado só em cobrir o conteúdo das disciplinas jurídicas não vai preparar o aluno para o mercado de trabalho de hoje. O coaching jurídico identificou esse nicho e explorou ainda um outro, o dos que querem estudar de forma customizada para concursos públicos ou para o Exame de Ordem”. 

O mercado cada vez mais saturado e o surgimento da concorrência até dos não-humanos da Inteligência Artificial, vêm apertando o garrote do advogado, mas não o faz ser mais vulnerável do que outros tipos de profissionais a cair em armadilhas marqueteiras, avalia Mendes. Mas esse ambiente propicia, sim, o surgimento de falsos salvadores da pátria. 

“Daí a importância da observância constante dos nortes éticos da advocacia, sem que isso represente um engessamento”.

Abrir WhatsApp