Uma noite que era para ter sido de diversão e lazer tornou-se pesadelo para um grupo de amigas, sucessivamente agredidas na madrugada da última sexta-feira, 19, ao saírem de uma casa de shows na Lapa, Centro do Rio. As vítimas, mulheres transsexuais negras, foram atacadas física e verbalmente após confusão gerada em frente ao local. A Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ, representada pela secretária-geral, Mariana Rodrigues, e pelo procurador Rodrigo Mondego, recebeu as vítimas na segunda-feira, dia 22, e prestará o atendimento jurídico necessário ao caso. No encontro, elas detalharam o início da confusão e descreveram uma recepção hostil por parte dos seguranças desde a chegada ao estabelecimento. Segundo as vítimas, ao questionarem o porquê daquele comportamento direcionado somente a elas, um tumulto começou e a partir disso, elas foram retiradas do local com agressões e linchamentos. Já do lado de fora, ambulantes e um motorista de aplicativo também participaram das agressões ao grupo. As fotos, compartilhadas também em redes sociais, expõem a gravidade dos ferimentos. De acordo com Rodrigo Mondego, os ataques físicos foram seguidos por agressões verbais com frases transfóbicas e tratamento no gênero masculino. Além disso, as vítimas alegam que foram roubadas durante a confusão e tiveram objetos pessoais levados. “Nitidamente a transfobia foi a motivação das agressões”, declarou o procurador. “Infelizmente existe essa prática de tentar criminalizar as vítimas e colocá-las como causadoras desta situação, mas elas devem ser tratadas como o que são, vítimas. Elas precisam ter não só uma resposta do Estado, mas também um acolhimento”, considerou. O caso, que está sob investigação da 5ª Delegacia de Polícia, na Mem de Sá, localizada no Centro do Rio, será acompanhado pela comissão e pelo advogado das vítimas, Djeff Amadeus, que classificou o crime de transfobia como um dos mais “bárbaros dos últimos tempos”. A secretária-geral da CDHAJ, Mariana Rodrigues, reforçou o papel de vítima que a sociedade impõe à população trans. “As pessoas trans mais uma vez encontram-se em processo de revitimização na sociedade. Ao saírem para se divertir em um ambiente festivo como a Lapa, aparentemente democrático, sentem-se, desde o primeiro momento, violadas e perseguidas”, observa Mariana. “Quando vão buscar ajuda do Estado, também são revitimizadas em ambiente policial. Esse caso mostra que novamente vítimas são colocadas ao lado de algoz, falta de respeito à identidade de gênero e sempre encontram travas colocadas pela sociedade. Confiamos que a 5ª DP tratará esse inquérito da maneira mais justa possível”.