22/07/2019 - 08:51 | última atualização em 22/07/2019 - 09:37

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Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ pedirá esclarecimentos ao Tribunal de Justiça sobre caso de sentença esdrúxula em pedido de guarda

Nádia Mendes

"O Rio de Janeiro é a sementeira do crime", "a criança já passou tempo demais com a mãe e precisa de uma figura paterna por ser do sexo masculino", "o pai tem mais condições de criar, já que ela é diarista" foram algumas das justificativas usadas por um juiz de Vara de Família para conceder a guarda de uma criança de oito anos ao pai, que mora em Santa Catarina, em detrimento da mãe, moradora do Complexo de Manguinhos, onde o garoto vive desde que nasceu. O local de residência foi, inclusive, outro argumento do juiz, que definiu Joinvile como uma "cidade próspera", enquanto Manguinhos seria uma "área criminógena". 

Diante do absurdo da situação, Rosilaine Santiago da Rocha procurou a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OAB/RJ, que a recebeu nesta sexta-feira, dia 19, e adiantou que irá oficiar ao Tribunal de Justiça pedindo esclarecimentos sobre o caso. "A sentença ainda não foi publicada, mas o advogado dela entrará com recurso. Acreditamos no bom senso da 2ª Instância para que isso seja revertido", disse a membro da comissão, Aline Caldeira.

Rodrigo Mondego, que também integra a CDHAJ, ressaltou que o juiz ignora pontos importantes em sua sentença. "Ele não leva em conta que o laudo psicossocial, feito por uma assistente social e um psicólogo, diz que ela tem condição plena de tomar conta da criança. Também ignora o fato de ela ter sofrido violência doméstica. O ex-marido, inclusive, respondeu por isso e também por tentativa de homicídio qualificado", relatou. 

Para Mondego, o juiz deixa claro que foi determinante o fato de ela ser mulher e morar em comunidade. "A decisão toda está calcada em mero preconceito. Ele ignora, inclusive, que atualmente ela está em um trabalho com carteira assinada", pontuou.

Histórico de violência

Rosilaine entrou com o pedido de regularização de guarda após uma situação limite, em que o ex-marido tentou matá-la com uma faca. As ameaças de morte eram frequentes. Depois do episódio, ela conseguiu medida protetiva e ele saiu da casa onde moravam juntos, em Manguinhos. Nessa época, o filho de Rosilaine tinha três anos. Esse extremo aconteceu depois de anos de violência verbal e psicológica, inclusive enquanto ela estava grávida. Ao receber o pedido da regularização da guarda, o ex-marido respondeu pedindo que a guarda fosse transferida para ele. 

Na reunião, ela relatou os momentos de horror que viveu. As agressões aconteceram na frente de seus dois filhos. O mais velho, de uma relação anterior, foi quem ligou para a polícia em outra vez que o ex-marido tentou agredí-la com uma faca e chegou a, inclusive, cortar o queixo dela. Segundo Rosilaine, o alcoolismo intensificava dessa conduta.

Já sobre a agressão que gerou a medida protetiva, ela contou que ficou três dias fora de casa, com medo de voltar. "Ele dizia que eu podia voltar pra casa que ele não ia fazer nada comigo. Mas me xingava muito. Eu só pedia pra ele sair de casa, que eu estava na rua com duas crianças por causa dele". Diante da negativa, ela foi à delegacia prestar queixa. Quando retornou, o ex-marido tinha ido embora levando dinheiro e documentos dela. "Ele jurou que ia destruir a minha vida. E está fazendo isso".

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