14/11/2019 - 18:25 | última atualização em 14/11/2019 - 18:42

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Comissão de Direitos Humanos representa família de garçom assassinado na Barreira do Vasco; PMs da UPP são suspeitos do homicídio

Clara Passi

O primo e a viúva do garçom Francisco Laércio de Paula Lima, assassinado no sábado, dia 9, na Barreira do Vasco (em São Cristóvão, Zona Norte), foram atendidos pela Comissão de Direitos Humanos da OABRJ nesta quinta-feira, dia 14. A partir de agora, o comerciante Gilson Marques Lima, dono do bar na Lapa onde Francisco trabalhava, e Ana Arlete Alves Faria serão representados no inquérito pelos integrantes da comissão Rodrigo Mondego e Mariana Rodrigues. O caso está sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca.  

Policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Barreira do Vasco/Tuiuti foram acusados por testemunhas de terem sido os autores do disparo que matou o garçom, de 26 anos.

Francisco foi baleado na cabeça quando voltava para casa por volta das 7h, depois de uma noite de trabalho. Segurava um copo de café e uma sacola quando, de acordo com testemunhas, foi surpreendido por PMs que saíram de um beco atirando e ordenando que quem estivesse na rua não corresse. Tentou proteger-se e foi atingido na têmpora. 

Moradores afirmam que não havia confronto na favela no momento do crime, enquanto a Polícia Militar alegou, num primeiro momento, que os policiais reagiram ao ataque de criminosos. Testemunhas contaram à família que os agentes impediram que Francisco fosse socorrido pelos vizinhos.

O caso ganhou repercussão nacional e comoveu a comunidade. Tanto que o integrante da Associação de Moradores da Barreira do Vasco José Aldino participou da reunião na Seccional. 

No dia da morte, a Polícia Militar informou, via Twitter, que os agentes foram autuados e detidos pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora por desobediência de ordem e descumprimento de missão, ambos crimes militares, e soltos na segunda-feira, dia 11. A medida não puniu os policiais pelo homicídio, mas por terem quebrado os protocolos internos da corporação ao atuarem na favela à revelia.  

“Já na semana que vem, iremos à Delegacia de Homicídios munidos da procuração que temos agora para representar a família para que o inquérito corra da maneira mais célere possível. Apoiaremos quaisquer testemunhas que se sentirem intimidadas. Esta é mais uma morte de um inocente por conta de uma política de segurança pública que se demonstra equivocada”, afirmou Mondego.

Francisco morava no Rio havia dez anos. O primo providenciou a ida do corpo à cidade de Ipaporanga, no Ceará, onde a família vive. O velório mobilizou a cidade e motivou manifestações por justiça. 

“Não foi bala perdida, não havia tiroteio. Ele não estava num beco, estava numa rua larga, perto de onde passam carros", disse Lima. “Temo que façam alguma coisa contra mim, já que o caso foi para a mídia e por estarmos nos colocando contra a polícia. Minha mãe, no Ceará, está desesperada. Mas, se eu morrer, morro feliz por ter lutado por um cara que trabalhava comigo. Morávamos juntos até recentemente, convivíamos intensamente. Foi uma grande perda”.

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