11/08/2023 - 16:00 | última atualização em 11/08/2023 - 16:54

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Comissões da OABRJ discutem as barreiras e o enfrentamento das atletas vítimas de violência no esporte

Encontro abordou os impactos desses ataques na trajetória profissional delas

Biah Santiago



Os desafios de mulheres atletas profissionais e a violência enfrentada por elas no mundo do esporte foi o mote de evento organizado pelas comissões Especial de Gestão e Empreendedorismo Jurídico (Cegej) e de Direito Desportivo (CDD) da OABRJ, em parceria com a Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica do RJ (ABMCJ), nesta quinta-feira, dia 10. 

É possível assistir ao encontro completo no canal da Seccional no YouTube. 

“Somar forças e trazer assuntos que devem ser discutidos é essencial para a nossa construção profissional, social e pessoal”, considerou a presidente da Cegej, Simone Amara Fernandes, na abertura.

Ao lado de Simone Amara, compuseram a mesa inicial do evento a presidente da ABMCJ, Rosana Juvêncio; a campeã brasileira de vôlei Paula Magalhães, conhecida como Paula do Vôlei; e as CEOs do Movimento O Poder do Batom Vermelho, Ana Flávia Cunha, e da Valores e Negócios, Simone Soares.

“A violência no esporte é um processo. Começa-se numa fala, depois uma agressão, e hoje, o Rio de Janeiro é campeão de feminicídio na estatística do nosso país”, declarou Ana Flávia. 


“Como advogada, enxergo as barreiras da minha profissão, mas considero necessário conhecermos as dificuldades enfrentadas por outras profissões, como as de atletas femininas. Apenas uma mulher segurando a mão da outra para entender como é viver em um mundo como o nosso. Precisamos de um verdadeiro movimento de união e de apoio para esta causa”.



A exposição às práticas de abuso psicológico, emocional e sexual sofridos pelas jogadoras nas quadras foi destacada pela ex-atleta Paula do Vôlei. 

“Há pouco tempo falávamos apenas da violência física sofrida pelas mulheres, mas existe também a psicológica e a emocional, por exemplo, e os impactos que isso pode causar na trajetória de uma pessoa”, constatou.

“O processo de uma atleta é extremamente difícil. Vivemos em uma vida de renúncia, afastadas das nossas famílias, e muitas vezes não existe o suporte necessário para passar por tudo isso. Nos treinamentos, já ouvi ‘ou você rende ou vá para atrás do fogão que é lugar de mulher’. Acredito que para começarmos a falar do enfrentamento, é preciso pensar em prevenção. E que as pessoas do mundo desportivo efetuem medidas mais assertivas para intervir, a nível de fiscalização, ouvir as atletas, acolhê-las e limar essa prática do esporte brasileiro”.

O sonho de ser atleta profissional pode ser destruído pela violência contra as mulheres, foi a premissa refletida nas palestras do encontro. Temas como as dificuldades das esportistas nos campos de futebol; os atos violentos nos jogos e os desafios de pegar ondas gigantes em meio a quebra de barreiras para atingir seus objetivos também foram elaborados pelos palestrantes. 

As falas dos painéis do encontro ficaram por conta das advogadas e atletas do “Jogadoras da Lei Fórum Clube”, Yasmin Araújo e Nárgela do Nascimento; da presidente da Comissão de Esporte da OAB/Pavuna e fundadora da equipe de futebol feminino “Jogadoras da Lei Fórum Clube”, Vanessa da Conceição Silveira; da delegada de Polícia Civil do Rio de Janeiro e ex-secretária de Assistência à Vítima estadual, Tatiana Queiroz; e da surfista profissional e campeã mundial das ondas de Nazaré Michelle Des Bouillons, que participou em formato virtual.

A advogada Yasmin Araújo apresentou casos de assédio, importunação e violência contra a mulher.

“Alguns estudos socio e antropológicos foram realizados para justificar porque há tanto machismo e violência contra a mulher e uma das muitas causas é a própria origem do futebol”, explicou Yasmin.

“Em 1941, durante o governo Getúlio Vargas, houve um decreto que proibia a associação de mulheres ao esporte e que ele era incompatível com o nosso físico. Essa justificativa se perpetuou não só no Brasil, mas também em países como o Reino Unido, Bélgica, França e Paraguai. Tais proibições duraram por anos e pesaram para constituir o patriarcado e para que nós mulheres tenhamos pouco espaço no futebol”, disse.

Fechando o último painel, a presidente da Comissão de Direito Desportivo da Seccional e presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Rio de Janeiro (TJD/RJ), Renata Mansur; e a coordenadora-geral do projeto Caarj 4.0 e conselheira da OABRJ, Andrea Cabo, trouxeram a visão jurídica em relação ao enfrentamento da violência na carreira futebolística.


“No mundo do futebol é onde a violência ocorre de forma mais grave. Quando assumi o TJD, os homens componentes do Conselho me testavam em regras de jogo de futebol. Mas o que era necessário era entender sobre o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD)”, abordou Mansur. 


“Precisamos entender que o nosso universo cultural é machista e masculino, então, nós mulheres, temos que nos inserir e quebrar paradigmas dentro desse mundo do esporte. Já estamos na página dois da história, ou seja, conquistamos o mercado de trabalho, já assumimos posição de liderança em diversos âmbitos e precisamos dessa união para sermos todas representadas por aquela que ocupou o espaço”.

Em meio as exposições das convidadas, o público, majoritariamente feminino, participou do debate e incitou diversos questionamentos ao que foi apresentado pelas palestrantes.

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