27/04/2023 - 16:08 | última atualização em 27/04/2023 - 16:13

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Debate promove reflexões sobre territorialidade indígena nas cidades

Comissão aborda direitos de povos originários dentro das tribos em meio urbano

Yan Ney



A OABRJ promoveu um evento para discutir a presença indígena nas áreas urbanas nesta quarta-feira, dia 25. A Comissão de Direito à Cidadania organizou o debate e reuniu diversos especialistas da temática. O encontro foi transmitido pelo canal da OABRJ no YouTube. Assista quando quiser!

Presidente do grupo, Valeria Farah Lopes de Lima começou agradecendo a presença indígena na mesa, que contou com Mônica Lima Tripura Kuarahy Manaú Arawak e Pajé Rita, duas figuras significativas na militância da comunidade originária. A mediadora também destacou a importância da mídia para fortalecer esta temática.


“Hoje temos a mídia mais voltada para a questão dos povos indígenas. Acredito que isso seja positivo, porque aproxima a sociedade de suas reivindicações”, disse a presidente.



Presidente da Academia Carioca de Direito, Rita Cortez aproveitou sua fala para tratar da temática de reparação histórica e a memória dos povos indígenas. A discussão sobre o passado ajudaria a fortalecer sua imagem perante a sociedade.

“Triste do povo que desconhece sua história. Quem desconhece seu passado, não tem o presente e não cria perspectiva de futuro”, expressou.

Monica Lima Tripura Kuarahy Manaú Arawak dialogou sobre a transformação social que a população tem passado. De acordo com a indígena, a conscientização da presença dos povos originários no ambiente de trabalho, na família e em comunidade tem avançado, mesmo que em um ritmo pequeno. A convidada continuou sua fala abordando a importância da memória do corpo indígena feminino.

“Sou uma mulher indígena e trago não só toda a violência que meu povo sofreu e sofre, como as mulheres, minhas ancestrais… Trago na minha alma, na minha memória e no meu corpo silenciado”, refletiu.

A convidada também expressou seu interesse de partilhar o conhecimento sobre a causa, visto que muitas instituições reforçam o racismo e prejudicam a propagação cultural. 

“Falar de corpos é falar sobre uma cultura decolonial, de transformação e modificação da sociedade para uma igualdade real e mais plural. A gente quer partir para a vida, mas é um projeto muito bem montado para destruir nossa alma”.

Pajé Rita, indígena de um povo tupinambá do sul da Bahia, iniciou sua fala com uma canção que representa a abertura das consagrações em seus territórios. A convidada reforçou a temática apontada por Monica Lima, em relação à força das vozes indígenas e sua ligação com a natureza.


“Guardiã da semente que sou, acredito que não somos nada se não tivermos uma conexão entre terra, água, fogo e ar. Só assim sabemos que viemos por um motivo, que estamos aqui não por um acaso, mas para darmos continuidade às vozes de nossas ancestrais, caladas por serem mulheres”, manifestou Pajé Rita.



A antropóloga Olívia Von der Weid abordou sua conexão com povos originários e o serviço prestado no Laboratório de Corpos, Natureza e Sentidos, da Universidade Federal Fluminense. A convidada relatou a aproximação com mulheres na Aldeia Pataxó, em Paraty, através da reconexão com a ancestralidade feminina.

“Se a gente refletir, vivemos em uma sociedade patriarcal, que valoriza a linhagem dos nossos pais. Os nossos sobrenomes carregam essa marca. Mas cadê o sobrenome materno? Cadê a história da minha avó e bisavó? Porque é essa linhagem materna, se a gente cavar e fizer essa pesquisa, o que nos leva ao grande útero que pariu o Brasil”, indagou a antropóloga. 

Vice-presidente da Comissão de Direito à Cidadania da OABRJ, Kátia Junqueira complementou o evento falando sobre os direitos de inclusão desses povos na sociedade brasileira.


“A partir dessa reunião vejo a possibilidade de sugerir a criação de um subgrupo para tratar desta temática (corpos indígenas femininos), e pensar em soluções para uma reparação histórica. Algo de efetivo precisa ser feito com o objetivo de reparações históricas, que eu acho que podem ser ações afirmativas, lei de cotas, coisas que já estamos debatendo em outros segmentos”.



Depois das participantes explorarem suas ideias, a mesa abriu um espaço para participação da plateia com o objetivo de debater e compartilhar vivências.

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