Por meio de sua Diretoria da Pessoa com Deficiência, a OABRJ realizou nesta quarta-feira, dia 16, evento para discutir a prática do bullying no ambiente virtual e como este tipo de importunação influencia na educação, na inclusão social e nas relações entre os jovens estudantes, a escola e a família. O comando do encontro ficou a cargo do diretor e do assessor de comunicação e eventos do grupo, Geraldo Nogueira e Dênis Deli, respectivamente. Para assistir, basta acessar o canal da Ordem no YouTube. “A pessoa com deficiência precisa lembrar que ela tem identidade vertical e horizontal, as quais nos colocam presentes na discussão como um ser ativo, com gostos e saberes”, considerou Geraldo. “O próprio termo ‘pessoa com deficiência’ gera pertencimento a um grupo. Tive uma rejeição muito grande ao sofrer um acidente na década de 1990 e ficar paraplégico, e só com o passar do tempo consegui me identificar com esse grupo. O bullying afeta a nossa identidade, pois ele interfere e é uma negativa da nossa identificação”. Dênis expôs uma pesquisa feita pela Unesco, em que o Brasil ocupa o segundo lugar dos países que mais praticam cyberbullying. Segundo ele, outras estatísticas apontam que 25% dos alunos serão atravessados por intimidações alguma vez na vida, seja enquanto vítima, ou enquanto agressor. “Pensamos em um tema que fosse bastante atual e impactasse na vida da sociedade e de pessoas que trabalham com isso. O bullying sempre existiu, mas antes do ambiente virtual, ele tinha horário para terminar. Com o advento da internet e das redes sociais, aquele ‘apelido’ te acompanha aonde quer que você vá”, refletiu o assessor de comunicação da Diretoria da Pessoa com Deficiência da OABRJ. “Não somos a segunda maior população mundial, mas ocupamos o segundo lugar que mais faz bullying. Esse número é alarmante, e precisamos entender que o bullying irá acontecer, não é ‘se’ e nem ‘talvez’, é uma certeza. O que podemos buscar é como nos preparar para mediar esses conflitos, como resolveremos essas questões e como faremos para que a escola cumpra o seu papel?”, observou. Os temas trouxeram para o debate a associação da escola e o cyberbullying, regulamentações que defendem a vítima - exemplo da Lei nº 13.185/2015, denominada Lei do Bullying e que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática em todo território nacional- e a deficiência como elemento de provocação do bullying. Os responsáveis pelas explanações do encontro foram a assistente do Instituto Helena Antipoff, Fanni Hamphreis; o superintendente de Programas e Projetos para Educação Especial (Supee) da Secretaria de Educação da Defensoria Pública (Seeduc-RJ), Daniel Bove; e os integrantes da Diretoria da Pessoa com Deficiência da OABRJ: Tathyane Hofke, Michele Joia e Caio Silva, especialista em educação inclusiva; e a colaboradora, a pedagoga Edlamar Mendes. “Os profissionais deste ramo precisam trabalhar em conjunto com a sociedade para ajudar a integrar essas crianças não só nas escolas, mas em todos os contextos”, refletiu a pedagoga. Corroborando a fala da colega de mesa, a advogada Tathyane Hofke destaca a violência perpetuada socialmente como um dos motores para incentivar as práticas intimidadoras. “A violência é um fenômeno construído socialmente, sendo ela multifacetada, fatorial e complexa. Ela não é inata à pessoa, e sim aprendida ao longo da vida. O combate ao bullying deve ser pensado no sentido mais amplo, pois temos uma realidade de crianças e adolescentes que expõe detalhes de sua vida e não temos dimensão do alcance e do prejuízo que isso pode trazer”, julgou. Medidas para combater o bullying virtual na esfera educacional também foram assuntos discutidos durante as palestras. Caio Silva acredita que uma das possíveis fontes para a criança aprender e praticar o preconceito e a discriminação advém de costumes familiares dentro de suas próprias residências. Ele relembra que a Lei nº 7.853, de 1989, prevê que qualquer ato discriminatório em razão da deficiência da pessoa é considerado crime. “O bullying nas escolas nem sempre é praticado de aluno para aluno. Às vezes, ele é praticado pelo próprio professor, pelo diretor, pelo inspetor. É preciso que um olhar voltado para a inclusão seja fomentado, para coibir que a escola, enquanto instituição, pratique esse tipo de agressão”, disse Silva. “O debate precisa ser levado para além da Ordem, para além da fala de especialistas. A discussão deve atingir um outro patamar, chegar até as autoridades e órgãos públicos para gerar um efeito prático. Vamos ficar atentos às atitudes das crianças e de seus responsáveis, senão, esse contínuo incentivo ao bullying pode ocasionar tragédias ainda mais sérias dentro das escolas”. Entre as apresentações dos palestrantes, o público participou das discussões com indagações e questionamentos diante do exposto pelos convidados.