16/10/2019 - 12:06 | última atualização em 17/10/2019 - 12:57

COMPARTILHE

Em dois meses, programa de mentoria já atende a cerca de cem advogados

Mais de 60 mentores prestam auxílio voluntariamente aos colegas. Parceria com Diretoria de Mulheres faz parte do projeto de expansão

Cássia Bittar

Com dois meses de funcionamento, o programa Mentoria da OABRJ já começa a escrever sua história de sucesso entre os projetos da gestão voltados ao aperfeiçoamento profissional dos colegas. Com uma procura que chama a atenção dos seus coordenadores, que formulam sua expansão buscando mais mentores nos quadros da Seccional, o projeto já atende a cerca de cem advogados.

São mais de 60 mentores com trajetórias profissionais reconhecidas pela Ordem atuando hoje dando orientação, indicando material de estudo, aconselhando e transmitindo seu conhecimento aos colegas que acionam o projeto. Um número que, segundo a diretora do Mentoria, a vice-presidente da Seccional, Ana Tereza Basílio, está em constante crescimento.

“Nós esperávamos que o programa fosse bastante procurado, mas mesmo assim ficamos surpresos com a demanda. São advogados de todas as idades, inclusive idosos, buscando auxílio de mentores em todo o Estado do Rio de Janeiro. A partir disso, estamos aumentando os convites para conseguirmos abranger todas as solicitações que estamos recebendo”, conta ela.

No programa de Mentoria da OABRJ, cada mentor pode assessorar a até três mentorados. Para solicitar a orientação, não há qualquer limitação de idade ou tempo de carreira: “Nossa ideia é justamente ofertar a todos os advogados que busquem a orientação de profissionais que possam contribuir para a formação de suas carreiras”, observa Basílio.

Vale lembrar que o auxílio profissional provido pela mentoria não é voltado para casos específicos em que os colegas estejam trabalhando, mas para as suas carreiras como um todo: “O programa seleciona os mentores de acordo com área de atuação do colega interessado e ele o recomenda leituras, propostas de honorários, de conduta, auxílios desta natureza”.

Uma das coordenadoras do projeto, Rose Ferreira, que atua como mentora, explica como funciona o atendimento aos colegas: “o mentorado leva suas questões profissionais e pontua quais são suas reais dificuldades, seja captar mais clientes, formar um plano de carreira, adquirir mais base acadêmica, se adaptar às novas tecnologias... A partir disso o mentor designado o auxilia de forma objetiva a pensar em soluções estratégicas. Mas cada atendimento varia, pois não é um programa engessado. A mentoria não tem como objetivo o estudo de uma doutrina, é um compartilhamento de experiências entre um profissional que já alcançou uma estabilidade na carreira e um profissional que, seja pelo motivo que for, precisa de auxílio em algum ponto dela”.

Segundo ela, a ideia principal passada pelo programa é quebrar a lógica de que advogados são individualistas. “Nossa intenção é tornar a classe mais colaborativa de forma que todos possam aprender e ensinar. A gente monta aqui uma rede de colaboração e de ajuda mútua”.

 Mentores elogiam possibilidade de trocar

Com mais de quatro décadas de vivência na advocacia trabalhista, o presidente da Caarj, Ricardo Menezes, tem tido a companhia do colega Rodrigo de Brito Gomes, de 34 anos, em boa parte de sua rotina profissional. Aos 61, ele topou ser um dos orientadores do projeto mentoria e acredita que tem muito a acrescentar com sua experiência. "Sei que estou de passagem e vou ajudar no que puder. A iniciativa é ótima", disse. Ao contar que seu mentorado o acompanha em audiências, em idas ao tribunal para despachar e em eventos na Casa das Prerrogativas, Menezes relembrou o início de seu estágio, ainda em 1978, no escritório de Hugo Mósca Filho e Aníbal Ferreira, na Rua da Quitanda. "Foi um contato muito interessante, pessoas conceituadas na esfera trabalhista. Tive a oportunidade de acompanhar algumas sustentações, pegar um pouco da experiência deles". Além do conhecimento na Justiça do Trabalho, Menezes vem utilizando a tarimba adquirida em 12 anos como representante da advocacia, entre Seccional e Caarj, para impulsionar o colega.

Ricardo Menezes e seu mentorado Rodrigo Brito / Foto: Arquivo

Tanto Menezes quanto Brito vêm valorizando os conhecimentos práticos. Prova disso é que os encontros entre os dois acontecem nos tribunais e em eventos de interesse da advocacia. Brito faz questão de valorizar este aspecto da parceria e ressalta a importância do aprendizado. "Ao acompanhar o dia a dia do Ricardo Menezes, sempre muito requisitado, consigo absorver muito conhecimento, como advogado e nas relações pessoais. O mentor, por definição, tem uma bagagem maior, é um profissional gabaritado e que possibilita um enriquecimento profissional em um mercado já um tanto saturado", considera. Brito, que trabalha de forma autônoma, elogiou a possibilidade de mentor e mentorado criarem a própria dinâmica de encontros.

Menezes frisou que encontros regulares entre mentores a fim de avaliar os rumos das parcerias e trocar ideias são uma boa forma de ouvir o que outras duplas estão fazendo e avaliar o caminho das mentorias. Uma das reuniões neste sentido foi realizada esta semana, na sede da Ordem.

Abner Vellasco, que também vem atuando como mentor, conta que o programa permitiu que passasse ao mentorado técnicas para aprimorar a carreira e a experiência que adquiriu trabalhando em grandes escritórios. “Sugeri que ele se aproximasse de associações vinculadas ao Direito Tributário, indiquei cursos e sites na área. Soube de uma vaga, indiquei o nome dele e ele conseguiu se recolocar no mercado. Mas, independentemente da indicação, minhas orientações sobre Direito Tributário geraram uma impressão positiva no escritório. Mesmo depois de empregado, ele continua seguindo os conselhos. Mantemos contato sempre, temos reuniões quinzenais, mas  nos falamos por mensagem sempre que ele tem alguma dúvida”.

Seu mentorado, Gabriel Ferreira, é só elogios ao projeto: “Achei o programa maravilhoso porque, rapidamente, consegui me inserir no mercado que desejava, o tributário. O mentor esteve sempre disponível para me ajudar. Sou recém-formado e durante a faculdade, fiz estágios em órgãos públicos onde lidava com Direito Tributário, mas não tive a oportunidade de advogar na área. E logo durante a mentoria, surgiu uma oportunidade no escritório onde trabalho há um mês”.

Representando um outro perfil de mentoria, Mariana Haft vem auxiliando Fabio Santana com a gestão de seu escritório. “Fábio é um advogado muito maduro tecnicamente. Tem formação acadêmica excelente, é procurador do município de São Paulo... Do ponto de vista técnico em Direito, ele certamente é até melhor do que eu”, conta, brincando. “Porém, ele surgiu com uma dificuldade muito comum aos advogados, que é gerir seu escritório. Como cobrar os clientes, controlar os processos, os fluxos... Pequenas noções administrativas que os colegas aplicam muitas vezes intuitivamente, mas que se tratam de técnicas e que, muitas vezes, com uma mudança de postura, com a aplicação das dicas certas, você potencializa sua carreira”, explica.

Mariana, que é advogada e consultora em gestão jurídica, afirma que a troca proporcionada pelo projeto é enriquecedora. “Costumo dizer para ele que a mentoria está sendo mais rica para mim do que para ele”. 

Parceria com a Diretoria de Mulheres

Entre as ações de expansão do programa de mentoria, Ana Tereza Basílio destaca a parceria fechada com a Diretoria de Mulheres da Seccional para auxiliar mulheres que retomam suas carreiras após se afastarem por motivos pessoais, como licença maternidade, por exemplo.

Marisa Gaudio, diretora de Mulheres, participa da ampliação do projeto da OABRJ / Foto: Lula Aparício

Segundo a diretora de Mulheres da OABRJ, Marisa Gaudio, além do foco na recolocação da advogada mãe no mercado de trabalho, a ação do grupo na mentoria focará no acolhimento da mulher advogada: “Advogadas com pouco tempo de carreira que precisam de orientação sobre como começar, mulheres que já estão há muito tempo no mercado, mas têm dúvidas se, por exemplo, param de trabalhar para serem mães, questões envolvendo machismo e assédio no Judiciário e nos escritórios, em tudo isso podemos auxiliar as advogadas explicando a legislação que as protege, trazendo reflexões, dando um atendimento mais específico sobre questões que nós já tratamos no nosso dia a dia. Trata-se de um movimento de solidariedade”.

Inscrições

Os interessados em receber auxílio no programa de mentoria deverão ler o regulamento do projeto e encaminhar um email para  [email protected]  com as seguintes informações solicitadas no texto. A seleção dos mentorados é realizada pelos membros que compõem a coordenação do programa. Para critério de seleção, são considerados fatores como a afinidade existente entre a área de atuação do mentor e do mentorado e a disponibilidade de horário e de deslocamento do mentorado para participar das atividades propostas pela mentoria. 

O programa tem duração de até seis meses podendo ser prorrogado conforme o interesse dos envolvidos e a disponibilidade do mentor. Ao final da mentoria a OAB/RJ, mediante prévia solicitação, emite certificado.

Abrir WhatsApp