Cadeiras lotadas e olhos focados no palco. Assim estava o Theatro Municipal enquanto Eliane Dias, advogada e empresária atuante do meio cultural, realizava a palestra magna da III Conferência da Mulher Advogada do Estado do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, dia 21. Quem estava nos corredores do prédio conseguia ouvir risadas, aplausos e gritos da plateia, que se sentia pertencente à conversa. Nos 25 minutos em que esteve de pé perante o público, Eliane Dias não poupou detalhes de sua vida, estava tão à vontade que pediu à idealizadora do encontro, a presidente da Comissão OAB Mulher, Flávia Ribeiro, para participar de uma próxima palestra magna. A convidada falou sobre maternidade, vida pessoal, relação com filhos e marido, além de suas atuações profissionais no meio jurídico, legislativo e empresarial. “O que as trouxeram até a conferência?”, perguntou às centenas de colegas do Theatro Municipal. De modo retórico, Eliane respondeu que estava no encontro para entender a si mesma. Contou que quando tinha nove anos quis aprender a ler depois de encontrar um livro de Carolina Maria de Jesus no lixo. Logo depois lembrou do pai, que deixou sua mãe quando ainda era pequena e indagou como estaria sua vida se ele fosse uma pessoa presente. “Graças a Deus ele não me criou. Se tivesse me criado, eu seria uma mulher fraca como ele. Fui criada só pela minha mãe e sou essa mulher incrível que está aqui na frente com vocês”, expressou, enquanto era aplaudida pelo Theatro Municipal. A convidada é CEO da produtora Boogie Naipe, que está à frente da gestão da carreira dos Racionais MC’s, o maior grupo de rap do país, e do próprio Mano Brown, de quem é esposa. Ou melhor, como disse alguém na plateia: “O Mano Brown? Ele! Ele que é seu esposo”. Entre diversões e relatos curiosos do cotidiano, Eliane não deixou de tocar em temas caros para as mulheres pretas, como machismo e racismo. “Se eu, mulher negra que sou e sofro racismo todo santo dia, passar isso adiante, vai ser ruim pra mim. Se meus filhos, que também sofrem racismo, passarem isso à frente também será ruim para eles”. E contou que ser mulher preta não é fácil, mas que ela vai à luta ao invés de ficar chorando e “cair em depressão”. Sobre maternidade, ela disse que foi uma das melhores coisas da sua vida e que precisou relacionar o estudo de Direito com a criação dos filhos. “Eles cresceram comigo estudando Código Penal, era uma coisa louca. Eu colocava a cabeça de um de cada lado e ‘vamos lá’. Lia tudo que podia, estudava e cuidava deles”. Incentivada por perguntas da plateia sobre o início de carreira e a relação entre Legislativo e o Direito, Eliane Dias revelou que para os interessados em ganhar milhões, a primeira coisa é colocar ideias na cabeça e pensar em coisas inovadoras. Ela se referiu às NFTs, itens exclusivos e insubstituíveis que são vendidos como arte por bastante dinheiro. Outra ideia que sugeriu é ser extremamente positivo, embora reconheça que seja muito difícil manter a mentalidade por muito prazo. “Eu quero, vou lá e faço!”. “A gente primeiro precisa querer, não pode ficar jogado no vácuo. ‘Eu quero’, então relaciona tudo, faz networking, trabalha, estuda, viaja, volta, faz um investimento e é assim que funciona”, concluiu.