26/07/2019 - 15:31 | última atualização em 26/07/2019 - 15:33

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Evento na Seccional marca o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

Cássia Bittar

No Brasil, elas são 55,6 milhões, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, chefiam 41,1% das famílias negras e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas. São as mais atingidas pelo feminicídio, pela violência doméstica e obstétrica, diz o Atlas da Violência 2019 e o Ministério da Saúde.

Os dados nacionais espelham um cenário que em 25 de julho de 1992, o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, realizado em Santo Domingos, na República Dominicana, já discutia: como o machismo e o racismo na sociedade atingem as mulheres negras. Desde então foi criado, nesta data, o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, reconhecido pela ONU e celebrado na OAB/RJ na noite de ontem, em um evento organizado pela Comissão OAB Mulher e que teve como mote a busca por maior visibilidade para esse grupo social.

“Aquelas mulheres em 1992 se encontraram para debater as questões de racismo e criar estratégias, analisar as demandas, os desafios a vencer como mulheres negras na sociedade da época e é exatamente isso que buscamos fazer hoje nesse evento. Sempre fomos invisibilizadas. Avançamos, mas aainda não temos muito o que comemorar, e sim estreitar nossos laços para fortalecer nossa luta”, analisou a presidente do GT Mulheres Negras da OAB Mulher, Flávia Monteiro.

Ela completou com uma ideia que se tornou o norte do evento: a união de mais grupos pelos pleitos das mulheres negras: “Precisamos dialogar, sim. Dialogar com os homens, com as mulheres brancas... Porque o momento que estamos vivendo é de retrocesso e devemos levar nossas demandas adiante”.

Diretora de Mulheres da Seccional e presidente da Comissão OAB Mulher, Marisa Gaudio reforçou: “É importante que nós, mulheres brancas, nos coloquemos como aliadas na luta das mulheres negras. Nós já temos que desconstituir um machismo que está enraizado em nós mesmas no dia a dia, que é um processo diário, dolorido. Se não nos unirmos, entendendo que é preciso respeitar a voz e a vivência das outras, não adianta. A gente precisa trabalhar junto”.

A diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, que fez história como a primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, em 1994, e primeira desembargadora negra do Estado, em 2014 (segunda do país), fez coro ao pleito de maior empatia às pautas das mulheres negras. “Muitas não gostam dessa cobrança, mas eu repito como um mantra nos últimos anos que tem faltado solidariedade entre as mulheres. Você vence qualquer coisa com união, porque você cai e o outro segura. A falta de solidariedade entre os negros e entre as mulheres foi o sistema estrutural desse país, assim se consegue poder. E não podemos dar prosseguimento a isso”.

O evento contou com participação do presidente da Caarj, Ricardo Menezes; da secretária-geral da comissão, Flávia Ribeiro; da assistente social Lilian Barbosa; da advogada membro do GT Mulheres Negras Marinete Silva; da criminalista Daniele Paula de Souza; da coordenadora do GT de Enfrentamento à Violência de Gênero da comissão, Marilha Boldt; além de apresentação da bailarina afro e professora integrante da Cia Clanm de Dança Sabrina Santana.

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