No aniversário de 36 anos da Constituição Federal, o retrato das lutas e conquistas das mulheres pela garantia de seus direitos constitucionais, mais precisamente na década de 1980, foi tema de um debate promovido pela Comissão de Direito de Família da OABRJ, cujo gancho foi a exibição do documentário “Lobby do Batom”, de Gabriela Gastal (2022), nesta segunda-feira, dia 25, na sede da Seccional. Estiveram presentes a diretora, a roteirista Christiana Albuquerque e a produtora Renata Fraga, que formam o grupo Três de Copas. O bate-papo sobre o filme e a sua relação com o Direito teve a mediação do presidente da comissão, Bernardo Garcia. Assista à íntegra do debate no canal da OABRJ no YouTube. “No filme, foi possível ver que a concretização da igualdade de direitos entre homens e mulheres teve o pontapé inicial naquela época, assim como muitos direitos de Família, como a licença-maternidade”, comentou Garcia. Mulheres que fizeram parte do movimento pela inclusão do viés de gênero no texto da Constituição Cidadã, que inaugurou a transição para a democracia no Brasil depois de mais de duas décadas de ditadura militar - e que até hoje ainda militam pela pauta feminina estiveram presentes no encontro. São elas: a advogada Leila Linhares Barsted e a economista Hildete Pereira de Melo, figuras responsáveis por inspirar o surgimento de coletivos feministas no país. O filme, que pode ser assistido por streaming, aborda os bastidores da mobilização de mulheres que impulsionou a formação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e gritos de guerra como: “Constituinte para valer tem que ter palavra de mulher”. Uma das figuras centrais no enfrentamento à violência contra as mulheres brasileiras, Leila Linhares relembrou os momentos marcantes que fizeram o movimento crescer diante da sociedade e a tomar seu espaço. “Os direitos postulados na Constituição foram o início de uma luta constante que segue até hoje. A nossa luta no ‘Lobby do Batom’ ainda não está consolidada o suficiente, pois ainda estamos tentando não perder os direitos conquistados”, observou a advogada. “Tínhamos uma responsabilidade histórica de segurar o que outras mulheres já vinham fazendo, como o direito ao voto. Fomos uma geração desenvolvida durante a ditadura militar e, àquela época, dando seus primeiros passos na fase adulta. O feminismo brasileiro tem na sua base a luta contra a ditadura. É importante dizer que, além do ‘Lobby do Batom’, estávamos no lobby por uma instituição democrática”. A economista Hildete Pereira de Melo trouxe questões, que segundo ela, continuam de difícil abordagem. “Algumas das pautas mais dolorosas de serem tratadas eram a descriminalização do aborto e os direitos trabalhistas para as empregadas domésticas”, ponderou. “O feminismo incomoda e incomodava muito nas décadas de 1970 e 1980. Há preconceitos enraizados na sociedade que fazem a luta ser tão difícil. Lembro de um seminário realizado pela ONU em 1975, onde éramos mais de 400 mulheres e as manchetes de jornal mostravam a fala de Celso Furtado, um homem, para dizer que a nossa luta por direitos das mulheres era importante para o país”. Gabriela Gastal, diretora do filme, contou o que motivou a criação do longa. “Começamos a montar o filme a partir de uma troca de ideias ainda durante a pandemia, em conversas no Zoom. Nossa ideia foi escolher uma narrativa a partir das vozes das mulheres que fizeram parte do movimento com estratégias que chamaram a atenção de todo o país, em uma época sem internet e redes sociais”, disse a diretora.