Milícias: para especialistas, ataque à delegacia é afronta ao Estado do Rio Do jornal O Globo 12/06/2008 - O ataque de milicianos à delegacia de Campo Grande, para especialistas, é mais uma afronta ao Estado do Rio. De acordo com a pesquisadora Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Candido Mendes, é necessário dar uma resposta aos grupos paramilitares. Ela defende, ainda, a responsabilização dos comandantes de batalhão e delegados: "As milícias, mais rapidamente do que seus defensores do começo previam, passaram a assumir uma condição de ameaça à ordem constituída. A solução passaria por uma resposta mais forte do que a que o governo do estado vem dando. Comandantes de batalhões e delegados deveriam ser responsabilizados pelas suas tropas". Para o cientista político Gláucio Soares, o estado foi conivente com a atuação das milícias. De acordo com sua análise, as acusações seríssimas de corrupção contra governadores eram relacionadas a obras superfaturadas ou caixa 2, mas desvinculadas do poder policial: "Simultaneamente ao ataque à delegacia, acontece grande exposição de corrupção da Policia Civil, passando possivelmente pelo ex-chefe de polícia, ex-governador e ex-governadora. Se, como parece, (o secretário de Segurança José Mariano) Beltrame, com apoio do governador, resolveu peitar isso, o racha não é só dentro da polícia, mas dentro da política e dentro do PMDB. O confronto não é mais só entre milícia e traficante, mas entre milícias e governo do estado. Através dessas milícias, o confronto entre o governo anterior e o atual". O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da CPI que investigará a ação de milícias, afirma que o crime ameaça o estado democrático: "Agentes por dentro do estado passam a atender interesses privados, sem limites, ao ponto de bombardear uma delegacia, o que mostra o grau de ousadia". Já o presidente da Comissão de Segurança da OAB-RJ, advogado José Carlos Tortima, espera que o ataque à delegacia seja apurado para que o envolvimento das milícias seja comprovado: "Parta de quem tenha partido o ataque à instituição do estado, é uma provocação intolerável que deve ser rigorosamente apurada". Um ataque ao Estado Depois de o tráfico amedrontar a cidade, é a vez de a milícia mostrar suas garras e atacar o Estado. Menos de um mês após a tortura de milicianos contra repórteres do jornal "O Dia" que trabalhavam infiltrados na Favela do Batan, em Realengo, dois policiais civis, segundo investigações da 35ª DP (Campo Grande), participaram do atentado à delegacia ocorrido ontem de madrugada. De acordo com o delegado Marcus Neves, os dois foram identificados como os homens que deram cobertura a uma dupla que lançou uma bomba contra o prédio. O ataque teria sido motivado pela ação da 35ª DP contra a milícia que atua em favelas de Campo Grande. Apesar dos danos à delegacia, ninguém se feriu. Além da participação de policiais, o suposto envolvimento de parlamentares com o caso chama a atenção. Ontem à tarde, dois homens acusados de fabricar a bomba, feita com uma carcaça de extintor de incêndio e pavio longo, foram presos em Cosmos, também na Zona Oeste. Antônio Santos Salustiano, de 43 anos, e o sobrinho Ocian Gomes Ranquine Salustiano, de 20, estavam com explosivos usados na confecção de balões. No entanto, peritos, segundo o delegado, constataram que o material da bomba do atentado é o mesmo usado pelos dois presos. Segundo o delegado Marcus Neves, eles teriam confessado que fizeram a bomba a mando do deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM), irmão do vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), que está preso. Os irmãos seriam chefes da milícia que atua na Favela da Carobinha, em Campo Grande, de acordo com o delegado. "Algumas informações apontam para o deputado Natalino como mandante do crime. A nossa convicção é de que, sendo Natalino e Jerominho os cabeças da milícia que atua na região, certamente eles foram os responsáveis, os mentores intelectuais desse crime", disse Marcus Neves.