07/11/2008 - 16:06

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Militares torturam jovem em quartel

Militares torturam jovem em quartel


Do jornal O Dia

07/11/2008 - Cinco militares do Exército, lotados na 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Realengo, estão sendo investigados pela Polícia Federal sob a acusação de torturar um adolescente de 16 anos. O jovem denunciou ter sido espancado, submetido a choques elétricos e queimado por um produto químico na tarde de quinta-feira depois de ser flagrado fumando maconha com um colega no terreno da unidade. Com queimaduras de primeiro e segundo graus no rosto, costas e braços, o rapaz corre o risco de ficar com seqüelas no olho esquerdo.

"Ele chegaram dando tiros para o chão. Meu amigo conseguiu fugir, mas me pegaram. Me deram muitos tapas no rosto, choques com um instrumento em forma de bastão nas costas e depois jogaram um líquido no meu corpo. Em seguida, um deles acendeu um fósforo e jogou em mim. Achei que fosse morrer", disse J. ao ser internado na tarde de ontem na Central de Atendimento a Queimados do Hospital Estadual Pedro II, em Santa Cruz. Ainda com o corpo em chamas, de acordo com J., os militares disseram que, para não ser morto, ele tinha três minutos para sair do local.

Segundo Maria Célia Furtado Brum, 57, mãe de criação de J., o rapaz chegou em casa, a pouco mais de dois quilômetros do quartel, desesperado e chorando muito. "Ele gritava por socorro, dizendo que tinham botado fogo nele. Ainda saía fumaça do corpo", revelou.

Muito machucado, J. foi dispensado de fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal de Campo Grande ontem de manhã. "Sei que meu filho estava fazendo coisa errada, mas não precisavam usar métodos da ditadura contra ele. Queremos punição", desabafou a mãe.

A Seção de Comunicação Social do Comando Militar do Leste (CML) emitiu duas notas sobre o assunto. Na primeira, de manhã, informava que um Inquérito Policial Militar (IPM) tinha sido aberto para "apurar melhor os fatos". À tarde, comunicado admitiu que a vítima ficou entre 15h30 e 16h "dentro de um aárea sob jurisdição do Exército", tendo a guarda patrimonial usado "procedimento não-letal e indicado para esse tipo de ocasião".

Segundo a nota, os militares utilizaram spray de pimentac ontra J. e que testemunhas civis e militares presenciaram o fato. Antes de transferir o caso para a Polícia Federal, o delegado-adjunto da 33ª DP, Felipe Iuri, informou que três militares já teriam sido identificados. Além de ter sido queimado, jovem garante que levou tapas, socos e choques elétricos.


Covardia, horror e aberração

Representantes de órgãos de defesa dos direitos humanos se mostraram indignados com o episódio e garantiram que vão acompanhar as investigações.

"As fotos são chocantes e provam o horror e a covardia impostas, mais uma vez, pelo Exército contra um inocente. Trata-se de um crime hediondo, que pode resultar em expulsão dos culpados do Exército e prisão de quatro a 16 anos. Estamos à disposição da família", afirmou Margarida Pressburguer, presidente da comissão de DireitosHumanos da OAB/RJ.

O deputado estadual Alessandro Molon (PT) solicitou ao coordenador-geral de combate à tortura da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Pedro Montenegro, que abra uma investigação do caso. "É uma aberração que soldados do Exército façam uma barbaridade desta comum jovem que foi encontrado cometendo um delito. Ele deveria ter sido conduzido à delegacia", disse Molon.

Evangélica, a mãe de J. disse que já havia alertado o filho a largar o vício. "Que o sofrimento que Deus colocou na vida dele endireite seus caminhos", suplicou. O rapaz confessou que já havia invadido a área do Exército três vezes para fumar maconha.

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