21/09/2023 - 19:08 | última atualização em 21/09/2023 - 19:50

COMPARTILHE

Mulher, advogada e mãe: painel sobre a economia injusta do capital invisível investido na maternidade emociona participantes

Clara Passi





Intitulado “As mulheres e o sistema de Justiça”, o painel da III Conferência da Mulher Advogada do Estado do Rio de Janeiro composto pela chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça, Lázara Carvalho, pela advogada especializada no Direito das Mulheres Ana Lúcia Dias e pela mediadora, a conselheira federal da OAB Juliana Bumachar, começou com um chamado à ação direcionado ao universo jurídico para que se considere o desvio produtivo provocado pelo cuidado com os filhos e a casa, repisando a obviedade de que todo ser humano ou é mãe ou é filho de uma. Passou pela autorização simbólica que as participantes (mulheres de destaque em áreas de atuação por vezes marcadas pelo protagonismo masculino) se deram para, finalmente, afirmar positivamente o epíteto “mãe” na identidade profissional; e terminou com um libelo emocionado em favor da maternidade em forma de poema.

Bumachar se disse orgulhosa de ver o Theatro Municipal lotado desde a manhã com mulheres protagonistas de suas vidas. “São momentos como este que energizam as mulheres a conquistarem seus espaços”, afirmou, apresentando-se como advogada especializada em direito da insolvência e...mãe orgulhosa de três filhos, dizendo-se inspirada pela coragem de Dias de fazer o mesmo de forma desavergonhada. 


“Será que basta algumas mulheres ocuparem alguns espaços em cumprimento à paridade de gênero? Não. Temos que estar em espaços de poder para abrir espaço para tantas outras protagonistas”, sustentou Bumachar. 



Lázara incentivou a participação dos colegas nas comissões de defesa de prerrogativas, criticando a criminalização do exercício profissional da classe, e citou problemas que pesam mais sobre a mulher advogada.

“O etarismo afeta a carreira jurídica de nós, mulheres juristas, e a maternagem é tarefa exaustiva. Quando essa atividade indispensável é vista pelo ângulo da carreira profissional, tem impacto no tempo que resta para a mulher se atualizar, fazer a carteira de clientes, na qualidade do tempo pessoal, no cuidado com a própria saúde. É claro que isso afeta a carreira e a relação com os clientes, a quem direcionamos um espelhamento”, disse.

Advogada especializada em Direito das Mulheres, Ana Lúcia Dias falou sobre a tese do capital invisível  investido na maternidade. Citou a autora Silvia Frederici ao afirmar que o que o senso comum chama de “atos de amor” é trabalho de cuidado não-remunerado. 


“O trabalho invisível da maternidade é a mais-valia da economia do mundo. Isso afeta nós advogadas. Defendo que coloquemos, no cálculo da pensão alimentícia e de partilha de bens o tempo do cuidado que se investiu naquele casamento, naquela casa, com aquele filho. Se a mulher está sobrecarregada no trabalho doméstico, ela está sofrendo violência de gênero. No meu perfil no Instagram, disponibilizo uma forma de fazer esse cálculo”.

Abrir WhatsApp