26/04/2009 - 16:06

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Nível da briga no STF surpreendeu ex-ministros

Nível da briga no STF surpreendeu ex-ministros

 

 

Do jornal O Globo

 

26/04/2009 - O Supremo Tribunal Federal (STF) sempre foi cenário de discussões entre ministros.

 

A novidade é que, ultimamente, o tom desses bate-bocas atingiu níveis inéditos. Segundo três ex-ministros da Corte, a troca de ofensas entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa chegou a um tom que seria impensável na época em que eles integravam o tribunal. Carlos Velloso, aposentado em janeiro de 2006, Maurício Corrêa, em maio de 2004, e Célio Borja, em março de 1992, concordam que as brigas entre ministros passaram a repercutir mais a partir 2002, ano de inauguração da TV Justiça, que transmite as sessões ao vivo.

 

Para Carlos Velloso, Barbosa foi agressivo ao acusar o presidente do tribunal de destruir a credibilidade da Justiça e de manter "capangas" em Mato Grosso. No entanto, Velloso acredita que Gilmar deveria ter sido mais hábil e encerrado a sessão assim que o clima esquentou.

 

Velloso tentou sem sucesso telefonar aos dois ministros no dia da briga, para dar uma palavra de apoio.

 

"Sem dúvida, quem extrapolou mais foi o ministro Joaquim.

 

O presidente foi muito atacado. Mas faltou a ele (Gilmar) sangue frio. Se eu estivesse presidindo o tribunal, quando a coisa começou a esquentar teria encerrado a sessão e ido embora.

 

Para eles, a pior discussão da história da Corte Velloso e Corrêa consideram a discussão de quarta-feira a pior da história do STF: "Presenciei discussões ásperas, mas essa foi a pior que vi", diz Velloso.

 

"No meu tempo, às vezes tinha uma discussão acalorada, mas nada tão contundente", concorda Corrêa.

 

Velloso e Corrêa acreditam que escândalos como esse podem ser evitados com o fim das transmissões dos julgamentos ao vivo pela TV Justiça, já que há ministros com propensão ao descontrole verbal.

 

Os dois ministros aposentados dizem que o melhor seria gravar as sessões e, depois, editar os principais trechos dos debates jurídicos, privando o público de discussões ásperas entre os integrantes do STF.

 

"Acho que o tribunal deveria reexaminar essa questão das transmissões ao vivo do julgamento e editar as sessões. Não me lembro de nenhum outro país que tenha transmissão ao vivo de sessões", disse Corrêa.

 

"Já tivemos muitas discussões no STF, mas naquela época não tinha transmissão ao vivo. A questão morria no âmbito das pessoas presentes e não tinha repercussão. Televisionar debate é prejudicial. Não é condizente com a Justiça o exibicionismo".

 

Expor debates na TV é bom, mas editado, como fazem os grandes programas de TV. Ao vivo, não dá. A população espera de um tribunal o comportamento moderado e equilibrado dos seus membros. Acontece que os juízes são homens, não são anjos, e estão sujeitos a essas exaltações nos debates - disse Velloso.

 

"Não interessa à população saber quem está xingando" Velloso criticou a programação da TV Justiça, que, segundo ele, poderia ficar mais interessante com as edições: "Acho que é muito chato, nunca consegui assistir a um programa inteiro da TV Justiça. Poderia ficar mais atrativo se eles editassem, com os principais debates do ponto de vista jurídico. Isso é o que interessa. Não interessa à população saber quem está xingando o outro".

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