28/07/2023 - 15:44 | última atualização em 28/07/2023 - 15:51

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OABRJ celebra legado de Aqualtune no CCBB

Evento discutiu desafios enfrentados pelas mulheres negras no país

Felipe Benjamin





O auditório do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) foi palco, na noite de quinta-feira, dia 27, do evento "O fortalecimento da mulher negra: seguindo os caminhos de Aqualtune", que reuniu nomes da OABRJ e palestrantes numa roda de conversa sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras na sociedade.


"Quero agradecer às organizadoras do evento porque sei o quão difícil é essa tarefa, especialmente com essa pauta, um tema que a sociedade tenta invisibilizar", afirmou a secretária-adjunta da OABRJ, Mônica Alexandre.



"Estamos aqui nesse prédio histórico para falar sobre as mulheres negras e sobre Aqualtune, que foi uma líder quilombola. Todas nós, mulheres pretas, somos líderes em nossas vidas. Somos nós que saímos para trabalhar, muitas vezes sem ter com quem deixar nossos filhos, somos nós que muitas vezes desempenhamos essa tarefa sozinhas. E hoje, embora estejamos em um lugar de privilégio, é sempre importante manter essas rodas de conversa, porque elas sempre representam um enorme aprendizado".

Além de Mônica, participaram do evento a presidente da Comissão OAB Mulher RJ, Flávia Ribeiro, e a secretária-geral da comissão, Flávia Monteiro. O encontro teve como palestrantes a psicóloga clínica Priscila Martins Decoster e a doutora em Educação Célia Cristo. A mediação da cerimônia ficou a cargo da coordenadora do GT de Mulheres Negras da OAB Mulher, Dianduala Ngudi, e da subcoordenadora, Ana Gleice Reis.

"Aqualtune foi uma líder quilombola, mas antes disso foi uma princesa no Congo", afirmou Flávia Ribeiro.


"Estar aqui hoje reverenciando sua ancestralidade com mulheres que fazem essa importante parceria dentro da OABRJ é, para mim, uma grande honra. Não se trata apenas de ocupar os lugares de poder e liderança, mas também de conseguir trabalhar neles. Por muitas vezes essa missão se mostra muito difícil, porque nos vemos sozinhas nos espaços. Por isso é tão importante que estejamos juntas em eventos como esse, apresentando as questões das mulheres negras, buscando caminhos e trazendo soluções para que cada vez mais ocupemos esses espaços".



Psicóloga jungiana, Priscila Martins Decoster falou sobre seu trabalho, no qual alia a psicologia à tradição africana dos oráculos ifá e o princípio da sincronicidade na obra do psicanalista suíço.

"Atravessar o processo de mestrado foi um momento de conexão com a minha ancestralidade e seus saberes", contou Priscila.

"Minha clínica é centrada na ancestralidade e desde o princípio eu entendia que minha população seria de pacientes negros. Subitamente percebi que também havia uma grande quantidade de pacientes mulheres, em especial mulheres negras, que se sentem confortáveis em falar comigo porque se reconhecem e sentem que estão falando com alguém que entende suas questões. Ao mesmo tempo, foi importante usar o nome da Carl Jung como um escudo, porque se eu não me apresentasse como uma psicóloga jungiana muitas portas não teriam sido abertas, ainda que esse legado seja roubado. Tudo o que Jung falou, meu povo já fazia muito antes, chame você de método da imaginação ativa ou de magia".

A importância do apoio de mulheres negras para que as questões que as afetam sejam difundidas foi o cerne da palestra da educadora Célia Cristo.

"Minha pesquisa de doutora trabalhou com histórias de vida de professoras negras que sentem e pensam, nos seus cotidianos escolares, as maneiras de combater o racismo do dia a dia", afirmou Célia.

"Nas minhas caminhadas, ouvi e compartilhei muito desse conhecimento com mulheres negras, tanto como professora da Educação Básica, mas também como ativista, que termina um doutorado dentro de uma instituição pública que ainda é permeada pela colonialidade do poder, como todas as outras instituições públicas. E superar isso está diretamente ligado à nossa experiência de povo preto que se movimenta numa perspectiva decolonial. Por isso é importante o que as mulheres negras do Direito estão fazendo, criando esse espaço para a troca de experiência, fazendo com que nossas vozes sejam ouvidas e garantindo a nossa entrada e permanência nesses espaços".

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