26/10/2023 - 09:01 | última atualização em 27/10/2023 - 17:09

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OABRJ celebra memória de Dom Pedro Casaldáliga

Evento contou com relançamento de biografia sobre o bispo catalão que defendeu pobres e indígenas em Mato Grosso

Felipe Benjamin



Na tarde de quarta-feira, dia 25, o Plenário Carlos Maurício Martins Rodrigues foi palco do relançamento do livro "Um bispo contra todas as cercas: a vida e as causas de Pedro Casaldáliga", de Ana Helena Tavares, em um evento promovido pelo Centro de Documentação e Pesquisa da OABRJ.

"O Centro de Documentação tem dois objetivos principais: um deles é cuidar da memória da OABRJ e da advocacia no estado do Rio de Janeiro", afirmou o diretor do centro, Aderson Bussinger.

"O outro é promover eventos que tratem dos direitos sociais, da cidadania e dos direitos humanos. A luta que Casaldáliga travou em nome dos povos originários e dos trabalhadores rurais diz respeito à advocacia, então a OABRJ tem as portas abertas para eventos como este".



Compuseram a mesa do evento, ao lado de Bussinger e Tavares, a presidente da Academia Carioca de Direito e ex-presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Rita Cortez; o advogado e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Siro Darlan; o advogado e ativista da Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST), André de Paula, e o representante da Comissão Dominicana de Justiça e Paz de Goiânia, Frei José Fernandes Alves.

"Peço a todos que leiam este livro, porque ler sobre a vida de Dom Pedro Casaldáliga é uma necessidade", afirmou Rita.

"É urgente que hoje todos conheçamos pessoas do porte de Dom Pedro ou Dom Hélder Câmara, que são pessoas extraordinárias, com histórias de resistência e enfrentamento à ditadura. Na dedicatória, Ana escreveu 'Na esperança de um mundo sem cercas', e o que esperamos é isso: um mundo mais humano e mais fraterno. Estamos aqui hoje falando de alguém que foi um exemplo na luta pelos direitos humanos, e eventos como esse são destinados a marcar a memória, a verdade e a justiça".

Ao apresentar as motivações que a levaram a contar a história de Casaldáliga, Ana Helena contou que seu inconformismo com a anistia concedida a militares que torturaram prisioneiros durante a ditadura foi a origem de sua aproximação com o bispo.


"Em 1969, aos 19 anos, um irmão de minha mãe foi preso e torturado por ter sido supostamente confundido com um terrorista, que era o termo utilizado pela mídia e pelos órgãos de repressão para se referir às pessoas que combatiam a ditadura militar", contou Ana. "Esse caso me motivou a realizar uma série de entrevistas para tentar entender por que aqueles torturadores nunca haviam sido punidos. Fui orientada a conversar com advogados e pessoas da Igreja Católica, e assim cheguei ao nome de Pedro Casaldáliga, um bispo radicalmente humano que me disse para que eu nunca esquecesse das causas da vida".



O evento também serviu como plataforma de lançamento da "Agenda latino-americana 2024", uma compilação de textos publicada anualmente em diversos países e editada e distribuída no Brasil pela Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil. 

"A Agenda Latino-americana é um projeto político-pedagógico elaborado a partir do momento no qual a América Latina iniciava seu processo de redemocratização no fim dos anos 1980, e é uma herança de Pedro Casaldáliga, que visitou a América Central na metade dos anos 1980 e voltou convencido de que era necessário um material de educação popular sem cercas geográficas, ideológicas ou existenciais", afirmou Frei José.

"Ela foi concebida com três finalidades: como uma ferramenta de leitura em vista da transformação, como um instrumento de formação da militância das causas latino-americanas, e como uma semente de movimentos populares, sindicais e estudantis".

Nascido em Balsareny, na região espanhola da Catalunha, Pedro Casaldáliga chegou ao Brasil em 1968, e três anos depois foi nomeado bispo prelado São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, onde ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Crítico da ditadura militar, denunciou a prática do trabalho escravo e as invasões de territórios indígenas no norte do estado.

"Mencionei Pedro Casaldáliga em minha tese de mestrado na Fiocruz, cujo tema era a alimentação", afirmou Darlan. "E o que tem Pedro a ver com esse tema? Tudo. Não apenas pelo alimento espiritual que ele nos deu, mas também pela herança de cidadania que ele nos deixou, com o respeito à terra que ele sempre demonstrou. Não pretendo aqui fazer análises do Estatuto da Terra ou da Lei de Execução Penal, leis que - de maneira proposital - não são executadas porque os sujeitos passivos da lei são aqueles chamados indesejáveis, aqueles cujos direitos fundamentais nossa sociedade não quer respeitar".

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