18/09/2007 - 16:06

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Prisão de policiais: deputado alerta para conflito institucional

Prisão de policiais: deputado alerta para conflito institucional

 

 

Do Jornal O Globo

 

18/09/2007 - A prisão de 52 policiais do 15º BPM (Caxias), com base numa investigação feita 59aDP (Caxias), pode piorar a relação entre as polícias Civil e Militar, segundo o deputado Paulo Ramos (PDT), que é major reformado da PM. Ele disse ontem que pedirá ainda hoje uma reunião de emergência da Comissão de Segurança da Alerj com a presença do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame; do comandantegeral da PM, Ubiratan Ângelo; e do chefe de Polícia Civil, delegado Gilberto Ribeiro.

 

Na última sexta-feira, os Barbonos (grupo formado por coronéis da PM) difundiram uma carta em que criticavam a divulgação de informações relacionadas a inquéritos da Polícia Civil em que oficiais e praças da PM são suspeitos de crimes. O texto criticava delegados por passarem à imprensa detalhes sobre o atentado ao delegado Alexandre Neto, o desaparecimento do líder comunitário da Kelson's, Jorge Siqueira, e o envolvimento de oficiais com a milícia em Niterói. Sobre a discórdia, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que "lugar de investigar e fazer provas é na polícia e lugar de julgar é na Justiça".

 

O deputado Paulo Ramos está preocupado com o clima entre as corporações. "Estão progressivamente aprofundando um confronto desnecessário entre as instituições. É importante que haja maturidade, especialmente dos escalões dirigentes, para que haja a compreensão para o tipo de confronto que vem sendo agravado. Esse conflito institucional vai ter conseqüências as mais desagradáveis para a própria população e prejuízos incalculáveis para as duas instituições", afirmou o parlamentar.

 

Paulo Ramos quer que a reunião se realize ainda esta semana. Ele questionou o posicionamento do próprio secretário de Segurança: "Não posso imaginar que o próprio secretário de Segurança esteja patrocinando essa crise entre as duas instituições".

  

O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, Wanderley Ribeiro, afirmou que a segurança pública precisa passar por uma profunda reforma, inclusive com o fim das duas polícias, Civil e Militar, e a construção de um novo modelo: "Nós, que queremos uma polícia digna, somos jogados na lama por uma estrutura falida. Não posso admitir isto, policiais corruptos sendo presos por policiais mais corruptos ainda. A quem interessa esse confronto institucional?".

 

O presidente da Associação de Ativos, Inativos e Pensionistas das Polícias Militares, Brigadas Militares e Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, Miguel Cordeiro, também criticou a atuação da Corregedoria de Polícia Militar, que fez as prisões ontem: "A corregedoria deve garantir amplo direito de defesa para todos os suspeitos. Sou contra ladrão dentro da PM, mas não admito que seus direitos não sejam respeitados. Ladrão também é ser humano".

 

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional RJ, Wadih Nemer Damous Filho, afirmou que, "problemas internos à parte", a presença de quadrilhas em instituições policiais é antiga: "Não é de hoje que se sabe que existe um aparato, uma chamada banda podre, que efetivamente adota comportamento incompatível com os padrões que se espera de instituições policiais. Esperamos apenas que esta não seja mais uma operação pirotécnica, ou briga entre facções policiais".

  

Ao ser informado sobre a prisão de tantos policiais do batalhão de Caxias, o ex-comandante do 15º BPM e atual comandante do 14º BPM (Bangu), coronel Paulo Lopes, afirmou que deixou aquela unidade com a tropa saneada: "Eu fiquei dois anos e três meses naquele batalhão e saí em novembro passado. Quando passei o comando ao atual comandante, disse a ele que aquela tropa estava saneada. Durante o período em que trabalhei lá prendemos mais de 600 e 57 foram excluídos. Sem disciplina e rigor, a tropa vira bando".

 

O coronel Paulo Lopes viveu um dos momentos mais conturbados da história da PM. O oficial, há 34 anos na polícia, assumiu o comando do 15º BPM em 2004 e impôs à tropa uma disciplina rigorosa imposta. A linha-dura provocou reações. Em março de 2005, oito policiais militares de Caxias foram detidos acusados de assassinar dois homens e jogar a cabeça de um deles dentro do quartel. Dois dias depois, 29 pessoas foram assassinadas em diferentes pontos na Baixada Fluminense. Onze policiais do batalhão foram denunciados pelo Ministério Público como autores da chacina.

 

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