25/08/2023 - 13:16 | última atualização em 25/08/2023 - 16:09

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Seccional promove lançamento de nova edição do livro "Quilombo na Serra do Mar - A ousadia de lutar pela liberdade"

Obra serve de base para estabelecer relações diplomáticas entre Brasil e Suíça

Yan Ney



A OABRJ sediou, na tarde desta quarta-feira, dia 24, o lançamento da 2ª edição do livro "Quilombo na Serra do Mar - A ousadia de lutar pela liberdade". A obra conta a história de um quilombo localizado no atual município de Casimiro de Abreu e relata as condições que deram origem a esse núcleo de resistência contra o cativeiro.

As páginas do livro percorrem o século XIX e abordam o aumento do tráfico negreiro após a chegada da família real portuguesa em 1808. Uma das fontes utilizadas nas pesquisas provém da sociedade suíça, pois documentos da época revelam que colonos destruíram quilombos e prenderam aqueles que ali viviam.

Para a nova edição, a autora Renata Azevedo Lima Lira acrescentou mais 40 páginas de conteúdo, incluindo mapas históricos que ilustram a densidade demográfica do estado do Rio de Janeiro e os locais onde a população negra e os quilombos estavam concentrados. A cidade de Valença, por exemplo, chegou a abrigar uma das maiores populações negras escravizadas do Brasil, com um índice próximo de 70%.

"Um quinto deste livro é composto por fontes primárias. Inclui telas de Debret, rugendas, censos demográficos e manuscritos da colonização suíça. Os documentos produzidos por colonos suíços falam sobre a existência desse quilombo e sua subsequente destruição", afirmou a autora.

Após o lançamento de "Quilombo na Serra do Mar - A ousadia de lutar pela liberdade", a Sociedade Suíça de História tomou conhecimento do livro e manifestou interesse em publicá-lo em francês. Desde então, seu conteúdo tem servido como base para o estabelecimento de relações diplomáticas entre o Brasil e a Suíça, com o objetivo de discutir casos concretos de reparações ligadas à escravidão no Brasil.

O presidente da OABRJ, Luciano Bandeira, que estava presente no VI Colégio de Presidentes de Subseções, também aproveitou para comparecer ao lançamento do livro. Ele ressaltou a importância de compartilhar essa história e da participação ativa da Ordem nesse diálogo.

"Queria expressar minha satisfação por estar aqui, testemunhando a participação e o apoio da OABRJ no lançamento deste livro. A história do quilombo em Casimiro de Abreu é extremamente relevante, ainda mais neste momento em que estamos revivendo essa discussão em nível nacional. É gratificante ver a Ordem abraçando esse tema, a fim de assegurar efetivamente a posse da terra e a titulação para os habitantes locais", declarou.

Aderson Bussinger, diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OABRJ, deu início à cerimônia de lançamento ressaltando a conexão entre a defesa do quilombo e a advocacia: "É com grande prazer que promovemos o lançamento deste livro, compreendendo que também estamos apoiando a luta do povo negro e preservando a memória de uma luta fundamental, a luta dos quilombos".

O evento prosseguiu com Renata Azevedo Lima Lira apresentando slides sobre o tema. A quilombola Sônia da Silva, autora da orelha do livro, que contribuiu para a pesquisa e é descendente do povo quilombola, denunciou que estão vendendo lotes de terra no quilombo de Casimiro de Abreu e tentando modificar o cemitério local, que é parte integrante da cultura quilombola. Ela informou que foram enviados ofícios para impedir essas mudanças, mas aguarda uma ação mais efetiva.


"Gostaria de registrar aqui a angústia que tenho enfrentado nos últimos dias: a venda de terrenos no quilombo e a alteração do cemitério, que é uma propriedade nossa", relatou.



Também estiveram presentes no evento a secretária-adjunta da OABRJ, Mônica Alexandre Santos; o presidente da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OABRJ, Humberto Adami; a presidente da OAB/Casimiro de Abreu, Alessandra Silva Batista; o produtor cultural da Fundação Cultural Casimiro de Abreu, Ervan Boucinha; e a presidente da Associação Estadual das Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro, Ana Beatriz Bernardes Nunes.

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