26/03/2009 - 16:06

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Só 18% dos detentos têm acesso a educação no Brasil

Só 18% dos detentos têm acesso a educação no Brasil

 

 

Do Jornal do Brasil

 

26/03/2009 - Direito de todos e dever do Estado, a educação é encarada como privilégio pelo sistema prisional brasileiro, onde apenas 18% dos 440 mil presos têm acesso ao ensino formal ou a atividades extra-curriculares enquanto cumprem suas penas. Esse dado alarmante faz parte do relatório preliminar sobre a situação da educação nas prisões brasileiras elaborado pela Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

O levantamento, feito em dez unidades prisionais entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, será entregue em 28 de abril aos Ministérios da Justiça e da Educação e ao Ministério Público Federal e integrará o Informe Mundial sobre Educação nas Prisões da Unesco.

 

Para a relatora brasileira da ONU para o Direito Humano à Educação, Denise Carreira, o estudo mostra um retrato desolador de violações a um direito garantido a todo cidadão.

 

"A educação ainda é vista como um favor dentro do sistema prisional", critica a relatora. "Isso fica explícito nas visitas que fizemos às prisões e nos depoimentos dos educadores que atuam nessas unidades".

 

O relatório preliminar traz denúncias de violações como destruição de material pedagógico durante as revistas nas celas, interrupção das aulas, cerceamento da liberdade de professores e do contato físico entre eles e os alunos, dificultando a empatia que pode ajudar na apreensão do conhecimento, e até suspensão dos cursos como punição após alguma ameaça de rebelião.

 

Segundo Denise, fica a critério dos agentes autorizar até o material que o professor vai usar. Uma música ou filme passa pelo crivo dos agentes, que, mesmo sem formação acadêmica para isso, decidem o que é adequado ao processo de aprendizagem dos alunos.

 

Dados do Ministério da Justiça mostram que, do total de presos no país, 65% não concluíram a educação básica e 12% são analfabetos. Uma população formada quase toda por homens (94%), pobres (95%) e negros (65%). E quase 265 mil são jovens entre 18 e 30 anos, privados do direito à educação, a qual deveria ser parte do processo de ressocialização desse contingente.

 

"O sistema penitenciário não está preparado para a educação. Temos grandes dificuldades para adaptar o ensino à realidade de trabalho sem livro, sem material didático", afirma a professora de uma unidade prisional do DF que preferiu não se identificar.

 

"O acesso à educação é praticamente nenhum. Os presos no Brasil vivem num regime quase de tortura. O levantamento não surpreende", lamenta Agesandro Pereira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil.

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