03/08/2018 - 21:01

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Dramas individuais de uma tragédia coletiva

03/08/2018 - 21:01

Dramas individuais de uma tragédia coletiva

Dramas individuais de uma tragédia coletiva


Após as chuvas, resta a Friburgo trabalhar na sua reconstrução e contabilizar os mortos, desaparecidos e desabrigados. A frieza dos números, porém, esconde uma série de dramas pessoais, vividos por pessoas comuns, que muitas vezes precisaram da ajuda de desconhecidos para recuperar seus bens e até mesmo preservar suas vidas. O presidente da Subseção de Friburgo, Carlos Pedrazzi, ele próprio desalojado por morar em uma área que passou a ser considerada de risco, relatou uma série de casos nos quais a solidariedade e a superação foram fundamentais para que vidas fossem preservadas e sentimentos de perda minorados.

De acordo com Pedrazzi, funcionários do Departamento de Apoio às Subseções (DAS) da OAB/RJ e da Caarj ficaram vários dias na cidade e prestaram apoio integral, não só aos advogados, mas a toda população friburguense. "O apoio dado pela Seccional e pela Caarj foi irrestrito. O grupo de voluntários não mediu esforços para ajudar os necessitados", afirma ele. Além de ajudar na limpeza da sede da Subseção, que foi alagada e teve o escritório compartilhado, a biblioteca e o auditório comprometidos, a equipe ajudou alguns colegas que tiveram seus locais de trabalho danificados.

"Fiquei emocionada, nunca tive tanto orgulho em pertencer à OAB/RJ como naquele dia". O relato é da advogada Larissa de Mello Costa, ao lembrar a ajuda recebida pelas equipes da Seccional e da Caarj na retirada da lama que invadiu seu escritório, na rua do Fórum de Nova Friburgo. "Primeiro, recebi um telefonema perguntando se eu estava bem e oferecendo auxílio. Depois, parou uma picape em frente e pessoas maravilhosas desceram para me ajudar na limpeza e na recuperação do que não havia sido destruído. Eu não esperava por isso, elas foram excepcionais", conta Larissa.

O advogado Marcelo Reitberger também é grato pela ajuda. Em seu escritório, em frente à sede da subseção, a água chegou a um metro de altura. "O estrago foi grande, e o pessoal da OAB/RJ foi muito solícito, oferecendo um eletricista para recuperar a fiação", salienta.

Além de bens materiais, a pronta ação de voluntários que trabalhavam na entrega de donativos às vítimas salvou mãe e filha de afogamento. No dia 15, quando retornava do Morro do Ruy, numa área isolada, o grupo ouviu os gritos de socorro de uma jovem. Chovia forte e na casa onde estavam ela e a filha de três meses a água atingira a altura da janela. O motorista Igor Cassiano tentou se aproximar com o carro, mas atolou na lama. Então, ele e os funcionários Altamiro Srankli, Marcelo Mirandela, Evilázio, Francisco, Joel, Carlos Alberto e Elcio deixaram o veículo e entraram no lamaçal, conseguindo entrar no imóvel e resgatar mãe e filha, levadas a salvo para o interior de uma igreja próxima. Mais tarde, o carro precisou ser içado com um trator.

Empregados e dirigentes da OAB/ Friburgo também sofreram diretamente as consequências das fortes chuvas. O funcionário Nazareno Viana, por exemplo, viveu um drama. Após ser dado como desaparecido por cinco dias, foi encontrado, no dia 17, com vida. Morador do bairro Jardim Ouro Preto, ele teve a casa levada pela enxurrada. A força da água arrastou o imóvel por cerca de cem metros. Além da casa, Nazareno também perdeu a filha de 13 anos. Socorrido por populares, ele foi alojado na casa de parentes. A funcionária Charmine da Silva foi outra que perdeu sua moradia devido aos temporais.

Um dos maiores exemplos de persistência e superação foi dado pelo presidente da Comissão de Esporte e Lazer da Subseção, Samuel Guerra, que, de acordo com Pedrazzi, "se mostrou incansável na ajuda aos necessitados, apesar de todas as suas dificuldades". Na tragédia, Samuel perdeu a filha, de 13 anos, a mãe, uma tia e uma sobrinha, além de um amigo da família. Ainda durante o velório de seus familiares, ele adiantou que iria trabalhar como voluntário no socorro às vítimas. O presidente da OAB/ RJ, Wadih Damous, e o presidente e o tesoureiro da Caarj, respectivamente, Felipe Santa Cruz e Ricardo Menezes, acompanharam a cerimônia e ofereceram solidariedade ao colega.

O número de desabrigados ainda é grande. Existem no município 46 abrigos formais, que recebem regularmente as doações oficiais do poder público, e diversos informais, onde a situação é preocupante. "Encontramos uma casa de um quarto que abrigava 38 pessoas e uma de dois quartos onde 68 dividiam o espaço. Estamos tentando abastecer estes locais", revela Pedrazzi. Segundo ele, não há precedentes para a catástrofe. "Tivemos, aqui em Friburgo, não um, mas 30 ou 50 morros do Bumba", resume.


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