17/08/2017 - 13:56

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Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

17/08/2017 - 13:56

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, a Seccional realizou a atividade Mulheres negras e o Poder Judiciário, com palestras da diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, e da socióloga e professora da Unirio Andréa Lopes da Costa, além de discussão de propostas de combate à discriminação. O evento foi organizado pelo grupo de trabalho (GT) Mulheres Negras da OAB Mulher, coordenado por Marina Marçal.

A presidente da OAB Mulher, Marisa Gaudio, saudou a data ao abrir o evento e lembrou que “as mulheres negras sofrem tipos de discriminação diferentes das sofridas pelas brancas, ou também pelas transexuais, lésbicas. Vão se somando discriminações”. O procurador-geral da OAB/RJ, Fábio Nogueira, representando o presidente Felipe Santa Cruz, pontuou: “Espero sinceramente que daqui a alguns anos possamos viver em uma sociedade muito menos machista, sexista e misógina, que seja efetivamente plural, aberta e democrática.”

“É muito bom que tenhamos homens aliados na luta contra o machismo, e mulheres brancas aliadas na luta contra o racismo. Isso é um problema de todos, da sociedade”, declarou Marina Marçal, ao iniciar sua fala. Ela ressaltou que o GT é muito importante porque há convergências com todas, mas existem questões específicas enfrentadas pelas advogadas negras. “As mulheres negras têm o pior salário, e a situação das latinas é ainda pior que a das brasileiras. Somos muitas, precisamos de visibilidade. Perguntei a algumas colegas qual é a maior dificuldade na relação com o Judiciário, e a maioria me disse que era o cabelo. Como isso é possível, em 2017? Após iniciar minha transição capilar, já ouvi absurdos como por exemplo, entrando em uma audiência, o juiz perguntar onde sentaria o réu. Tive que explicar que eu era a advogada. A violência começa aí”, apontou. 

Diretora de Igualdade Racial da Ordem, Ivone Caetano deu uma aula de história e de autoestima. “Adoro minha idade, meu cabelo crespo, meu nariz chato, minha pele negra. Sempre agradeço a Deus ter me feito nascer negra. O preconceito racial passa de bisavô para o avô, para o pai, para o filho. E se passa a cultura do agressor, passa também a do agredido. A escravidão não pode ser nunca esquecida, não podemos esquecer o que passaram nossos ancestrais. O brasileiro não conhece a história do país, os negros também não conhecem sua história. Somos um país que foi criado no racismo, no machismo. É importante que a cada dia tenhamos mais poder de fala, para que as pessoas entendam o que passamos. Ninguém é melhor ou pior do que ninguém”, ensinou.

A socióloga Andréa Lopes da Costa apresentou uma perspectiva teórica sobre a noção de lugar de fala. “Essa noção não é para impedir a fala de ninguém, mas para dizer de onde falamos. Sou uma mulher negra, de família da classe média baixa. Aliás, é uma marca nossa ao falar que somos negros, trazer a história de quem somos, nossa origem. Existe uma diferença entre ter consciência de ser negro e a consciência política disso, ou seja, entender o que é o preconceito, o que é racismo, conseguir se entender em uma estrutura feita para ser hierárquica. Faço parte de uma geração que foi educada para se acomodar de alguma forma e não lutar contra o racismo, era uma estratégia de sobrevivência. Os jovens de hoje são muito mais conscientes de sua estética racial, não têm vergonha de seus cabelos, e usam isso de forma muito enfática”, observou.
 

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