03/08/2018 - 21:04

COMPARTILHE

Especialistas e familiares pedem inclusão dos autistas na sociedade

03/08/2018 - 21:04

Especialistas e familiares pedem inclusão dos autistas na sociedade

Problemas enfrentados pelos que convivem com a disfunção foram tema de seminário realizado na OAB/RJ
 
CÁSSIA BITTAR
 
“Espero que as crianças autistas de agora não tenham mais comprometimentos sérios nem passem por situações tão deprimentes como eu passei e ainda passo com o meu filho por não ter a oportunidade de um atendimento digno. Nunca vi tanto desprezo e descaso com a vida de um cidadão como tenho visto durante todos esses anos com ele, que até hoje não teve seus direitos respeitados”.
 
O depoimento de Maria Auxiliadora, mãe de um autista de 25 anos, ilustrou a situação de milhares de familiares de crianças e adultos com a disfunção, que foi tema de seminário realizado no dia 13 de abril, no salão da OAB/RJ. O evento fez parte das comemorações da Seccional ao Dia Mundial de Sensibilização para o Autismo, celebrado no dia 2 do mesmo mês.
 
Maria relatou as dificuldades vividas desde a infância do filho, quando autismo ainda era uma palavra desconhecida, até sua fase adulta. “A saúde pública acha que nossos filhos, pelo menos os com grau mais elevado de autismo, têm que ficar nos Centros de Atenção Psicossocial (CAP), que têm se tornado mini-manicômios”.
 
Um tratamento mais adequado, segundo a maioria dos especialistas presentes, seria o previsto na Lei nº 6169/2011, de autoria do deputado estadual Xandrinho (PV), com a criação de centros de reabilitação integral, em diferentes regiões do estado, voltados para esses menores. “Alguns pais têm condições de tratar adequadamente seus filhos autistas, mas a realidade é que a maior parte da população não tem. O que conseguimos, com a aprovação da lei, foi deixar claro que o mínimo que o governo tem que fazer é diagnosticar e tratar”, observou o parlamentar, que participou de uma das mesas do seminário.
 
Ele explicou que a ideia do projeto de lei partiu de conversas com representantes da ONG Mundo Azul: “Percebi que não temos nenhum estudo em nosso país sobre autismo e que há casos até de pais que não querem conhecer o problema. Isso é gravíssimo. O autismo deve ser encarado de frente”. A questão também foi comentada pelo professor e consultor de Inclusão Social Romeu Sassaki. “A sociedade e às vezes os próprios familiares querem que o autista se torne uma ‘pessoa normal’. Temos que aprender a agir com essas pessoas do jeito que elas são”.
 
De acordo com a representante do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Samantha Monteiro, poucas escolas públicas atendem às crianças com a disfunção. “O tratamento aos autistas nos colégios varia muito de acordo com esforços individuais das instituições”. Já a coordenadora do Núcleo de Saúde Mental e Trabalho (Nusamt) do governo do estado, Vera Pazos, informou que será realizado um trabalho, a partir de agora, de inclusão de pessoas com transtornos psicomotores nas cotas de trabalho para deficientes: “O Rio destá sendo, com essa medida, pioneiro nessa questão”.
 
Para o deputado federal Otávio Leite (PSDB/RJ), é preciso dar um passo adiante: “Já progredimos na legislação, só precisamos que as coisas aconteçam na prática, com mais sensibilidade dos governantes e acesso aos instrumentos da tecnologia”. Ele citou como exemplo a medida do governo federal, recentemente anunciada, de deduzir do Imposto de Renda de empresas ou pessoas físicas as doações ou o patrocínio a instituições filantrópicas dedicadas ao tratamento de pessoas com deficiência.
 
O evento fez parte de uma série de ações da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD) da OAB/RJ, em parceria com a Universidade Castelo Branco, lembradas pelo presidente da CDPD, Geraldo Nogueira. Segundo ele, será produzido um vídeo, reunindo todas as manifestações, para levar informações sobre a disfunção para a população.
 
A presidente da Comissão de Assuntos Tributários da Seccional, Daniela Gusmão,  intregou a  mesa de abertura, representando a universidade, da qual é reitora. “Essa parceria mostra que a OAB/RJ pode ser um braço institucional muito importante na luta das pessoas com autismo, assim como em tantas outras questões de direitos humanos”, ressaltou. O seminário foi coordenado pela colaboradora da CDPD Bárbara Parente.

Abrir WhatsApp