25/05/2016 - 18:29

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Dica do Mês: Uma cartografia amorosa da periferia

25/05/2016 - 18:29

Dica do Mês: Uma cartografia amorosa da periferia

MARCELO MOUTINHO
Nem sempre a transposição de um livro para o palco se sustenta como dramaturgia preservando o espírito da obra original. Para o deleite dos espectadores, a adaptação teatral do Guia afetivo da periferia, do escritor e documentarista Marcus Vinicius Faustini, é um desses casos. Transformado em monólogo estrelado por João Pedro Zappa, e dirigido pelo próprio Faustini, o texto chega à cena com o mesmo vigor da página impressa.

O Guia evoca as memórias de um garoto morador da região periférica do Rio de Janeiro, às voltas com as dores do amadurecimento e a paralisia de uma família centrada nos dogmas da religião e do trabalho. A circulação do autor/protagonista pela cidade, que permite o rompimento das fronteiras entre zonas geográficas em geral tão demarcadas — e a consequente descoberta da alteridade —, é apresentada com o auxílio de projeções em vídeo.
 
A opção se mostra acertada, já que as imagens levam para o teatro recortes do território onde ele recolheu suas experiências. Ampliam o cenário. Estão lá, por exemplo, Santa Cruz, Madureira, Engenho de Dentro, Paquetá, Ipanema, Jacarezinho.

No bem urdido texto da adaptação, são potentes sobretudo os momentos em que signos de todo reconhecíveis para quem já viveu fora do “centro” ganham voltagem poética, deslocam-se do lugar em que a objetividade costuma colocá-los. A garrafa de Coca-Cola litro exclusiva do almoço de domingo, o pôr-do-sol visto da laje, e tão mais bonito porque “nosso”.

A peça fica em cartaz no Teatro Café Pequeno, no Leblon, de sexta a domingo, entre 15 de abril e 1º de maio.

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