25/05/2016 - 17:22

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Inclusão digital: escola faz um ano de pioneirismo no país

25/05/2016 - 17:22

Inclusão digital: escola faz um ano de pioneirismo no país

Com cursos que ensinam desde a informática básica até as particularidades de cada sistema, passando pelo uso do PDF, escola já capacitou presencialmente cerca de 2.200 advogados para o processo eletrônico
 
CÁSSIA BITTAR
Inaugurada no dia 26 de fevereiro de 2015 como a consagração de um modelo de sucesso de capacitação dos colegas para o processo eletrônico, a Escola de Inclusão Digital da OAB/RJ completa um ano já tendo realizado mais de cem edições de cursos presenciais, que são constantemente remodelados e expandidos de acordo com as necessidades dos alunos e novidades dos sistemas.

Nesse período, inscreveram-se nos cursos oferecidos – neles contam a série Navegando, que inclui edições para o Processo Judicial eletrônico da Justiça do Trabalho (PJe-JT) regulares e para advogados com deficiência visual, e para o sistema do Tribunal de Justiça (TJ); as oficinas de informática básica regulares e para a terceira idade; e o curso Explorando o PDF – aproximadamente 2.200 advogados, uma demanda que, segundo a diretora de Inclusão Digital da Seccional, Ana Amelia Menna Barreto, não para de crescer.

“Cada vez mais varas anunciam a implantação do processo eletrônico e o que percebemos no dia a dia é que muitos colegas, mesmo após todo esse tempo, ainda não se capacitaram. As pessoas permaneceram no papel enquanto puderam e agora precisam saber lidar com um modelo diferente. Acreditamos que nosso trabalho não irá cessar tão cedo, pois ainda há muitos precisando de ajuda”, explica ela.

O fato é que o processo eletrônico deixou, nos últimos anos, de ser uma expectativa para se tornar uma sólida realidade: no dia 21 de março, o Tribunal de Justiça (TJ) anunciou ter concluído a informatização de todas as varas e juizados especiais cíveis do estado; a Vara de Execuções Penais começou a implantação do sistema Processo Judicial digital (Projudi); e a Justiça do Trabalho contabilizava, no final de fevereiro, cerca de 5,6 milhões de processos tramitando por meio eletrônico em primeira e segunda instâncias.

A adaptação ao meio digital, porém, não tem sido fácil para muitos advogados que, além dos problemas que cada um dos sistemas apresenta em suas adaptações, tiveram que aprender uma nova forma de trabalhar. Todo esse processo foi acompanhado de perto pela OAB/RJ, que criou um projeto de capacitação para contando, tanto com palestras e auxílio através de vídeos e cartilhas pela campanha Fique digital como com o projeto OAB Século 21, que levou centrais de peticionamento e salas de computadores a todo o estado. Na capital, a Central de Peticionamento da Seccional, que funciona anexa à escola, realiza uma média de 2.500 atendimentos por mês. O auxílio na inclusão digital da advocacia pela OAB/RJ tornou-se um modelo de sucesso no país, sendo homenageado em 2013 pelo Prêmio Innovare.

“Percebemos, não apenas pela grande procura de cursos, como também pelo retorno dos colegas, o quanto essa ponte para sua capacitação é importante, em um momento transitório no qual sobram dúvidas. O sucesso da escola e da Central de Peticionamento, que disponibiliza computadores para eles trabalharem com auxílio da nossa equipe, são a coroação de um programa de sucesso da OAB/RJ”, comemora o presidente da Seccional, Felipe Santa Cruz.

Para Ana Amelia, a escola representou uma evolução: “Com a criação do nosso laboratório demos um passo à frente na forma de capacitar. Chegamos a um ponto em que a escola foi um instrumento fundamental para o processo de aprendizagem oferecido aos advogados, que antes aprendiam pelo modelo de palestras e agora podem treinar diretamente no sistema. Uma coisa é apresentar de forma teórica, como fazíamos antes, outra é o aluno colocar a mão na massa ou, como costumo dizer, a mão no mouse. A experiência sensorial é completamente diferente”.

A diretora destaca nesse sentido o ambiente de testes utilizado atualmente nos cursos Navegando no PJe-JT, formulado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) especialmente para o uso da Seccional nas aulas oferecidas na escola. “O TRT criou para nós um ambiente de testes idêntico à prática de um peticionamento eletrônico no PJe. Isso possibilita que os advogados, durante a aula, possam treinar utilizando a mesma plataforma com a qual irão trabalhar depois, sem o risco de ser para valer. Ali, eles podem testar quantas vezes quiserem as funções”, explica.

A professora Maria Luciana Souza, que é membro da Comissão de Direito e Tecnologia da Informação (CDTI), também comandada por Ana Amelia, reforça a vantagem da estrutura oferecida pela escola: “Nós antes apresentávamos em slide prints de todas as telas do processo para mostrar o passo a passo. Para alguns esse método já funcionava, mas para outros, não. Na hora em que os advogados sentavam em frente ao computador parecia que apagavam o que tinham acabado de aprender. Acredito que praticando enquanto se aprende parte da ansiedade é dissipada e as dificuldades são tratadas logo ali pelo professor”, observa.

Luciana destaca também as demandas percebidas em aula que permitem um atendimento específico a cada perfil de alunos. Ela, que é uma das professoras mais regulares do curso de informática para os que passaram dos 60 anos, aponta que questões como tempo de aula, velocidade das informações e tratamento personalizado são especiais para cada caso: “As aulas para a terceira idade têm um tempo maior, justamente para não termos que correr com o conteúdo. Quem já lida com o computador no dia a dia às vezes não acredita, mas há muitos que chegam aqui sem nem saber como ligar a máquina. Nós precisamos dar mais atenção a essas pessoas”.

Ana Amelia conta que o módulo Explorando o PDF também surgiu de uma demanda vista por ela em sala de aula. “Nós acabávamos perdendo muito tempo dos cursos sobre os sistemas explicando sobre a conversão para PDF e o corte do arquivo para caber nas especificações de cada tribunal. Daí, tivemos a ideia de fazer uma edição só para ensinar sobre o programa”. Ela acrescenta: “Assim, damos um leque para o advogado, com cursos que se completam. Para fazer o Navegando, a ideia é que ele já tenha passado pelo básico e pelo específico de PDF”.

“É assustador, mas percebemos colegas de todas as idades muito perdidos no uso do computador. Pessoas inteligentes, em plena produção e que de repente se veem em vias de serem obrigadas a largar a advocacia por conta dessa adaptação. O que fazemos aqui é abraçar o advogado”, ressalta Luciana.

Já Ana Amelia reforça a importância do trabalho frente à lacuna de ensino sobre o processo eletrônico nas faculdades de Direito. “Não existe essa cadeira, estão começando a implantar agora. E nós aqui nos destacamos por não ensinarmos informática. Nossa intenção é simplificar. Queremos impedir a exclusão do advogado de seu meio de trabalho e o que fazemos é ensiná-lo como lidar com esse meio”.

A escola realiza na média uma edição de curso por semana, aumentando a carga esporadicamente de acordo com a demanda. Para o próximo mês, a diretora anuncia a criação de mais um curso na série Navegando, o que tratará do sistema adotado pela VEP, o Projudi. E ressalta as atualizações contínuas no painel Fique digital, disponível no site da OAB/RJ, com as aulas da escola e cartilhas explicativas.

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