03/08/2018 - 21:04

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Juventude a postos pela verdade sobre o período da ditadura

03/08/2018 - 21:04

Juventude a postos pela verdade sobre o período da ditadura

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A irreverência e as músicas adaptadas de melodias conhecidas, como a que dizia: “Eu só quero é ser feliz / poder conhecer a história do país / e poder me orgulhar / acabar com a impunidade do regime militar” deixavam claro que partiu dos jovens o movimento conhecido como “escracho”, realizado em 19 de junho para denunciar um dos ex-agentes do Estado apontados como torturadores de presos políticos durante a ditadura militar.

 Inserida no contexto da Cúpula dos Povos e contando com a participação de diversos movimentos sociais, como a Via Campesina, grupo internacional de camponeses, a manifestação, organizada pelo Levante Popular da Juventude, junto à Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça, contou com a participação de cerca de duas mil pessoas, segundo a Polícia Militar.
 
O protesto partiu da Avenida Pasteur para a Rua Lauro Müller, em Botafogo, onde fica o prédio em que mora Dulene Aleixo Garcez dos Reis, tenente da Infantaria do Exército nos anos 1970, reconhecido como um dos participantes das sessões de tortura que resultaram na morte, nas dependências do DOI-Codi, na Tijuca, do jornalista e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Mário Alves. Garcez foi apontado, também, como um dos torturadores do jornalista Cid Benjamin, que foi preso em 1970 e hoje é chefe do Departamento de Jornalismo da OAB/RJ.
 
Entre os que aderiram à manifestação no meio do caminho estava o ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Eunício Precílio Cavalcante, preso na década de 1960. Emocionado, ele saudou os participantes: “É muito importante que essa bandeira esteja na mão dos jovens. É uma forma mais do que legítima de se fazer justiça”.
 
Segundo Paulo Henrique Oliveira, um dos organizadores do movimento, mostrar ao povo quem estava envolvido nas torturas dá sustentação ao funcionamento da Comissão da Verdade: “Esses criminosos levam sua vida tranquilamente, sem nenhum julgamento pelo que fizeram”.
Presente ao ato, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, classificou o reconhecimento dos responsáveis por torturas como “didático”. “Não é uma luta pelo passado. É uma luta em nome do passado pelo futuro do Brasil. Ela movia a geração que era jovem no período da ditadura e permanece hoje, incorporada em uma outra. Não se trata de revanche ou vingança, mas de justiça”.
 
No dia 5 de junho, o presidente da OAB/RJ, Wadih Damous, recebeu o grupo de ativistas. Segundo Wadih, “os escrachos acabam por substituir a justiça que o Supremo Tribunal Federal deveria ter feito e não fez, ao decidir que torturadores estão sob o abrigo da Lei de Anistia”.

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