08/05/2015 - 16:43

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Sob o olhar de um garoto, as feridas sociais do país

08/05/2015 - 16:43

Sob o olhar de um garoto, as feridas sociais do país

MARCELO MOUTINHO
 
Estreia do diretor Fellipe Barbosa em longas de ficção, Casa Grande se vale da derrocada econômica de uma família abastada para tocar em feridas históricas da sociedade brasileira. A história é narrada sob o ponto de vista de Jean (Thales Cavalcanti), o primogênito, que subitamente vê sua rotina de adolescente transformar-se em consequência da ruína financeira do pai, vivido por Marcello Novaes. O motorista que o leva da Barra da Tijuca ao Colégio São Bento, no Centro, é dispensado. A mãe começa a trabalhar, vendendo cosméticos. Jean passa a utilizar transporte público e travar contato com pessoas de outras classes sociais. A fórceps, amadurece. E amplia os próprios horizontes.

As interpretações, com destaque para Marcello Novaes, estão no mesmo (alto) nível do roteiro. Thales e Bruna Amaya – intérprete de Luiza, sua namorada – são estreantes, o que torna ainda mais notável o desempenho da dupla. Merece menção, também, o trabalho de Clarissa Pinheiro, que estabelece o contraponto de humor no papel de uma das empregadas da mansão.

Barbosa acerta ao abordar o tema da desigualdade social, aludido já no título que referencia o célebre estudo de Gilberto Freyre, sem esbarrar no panfletarismo. Os diálogos são verossímeis, por mais bizarros que possam soar em alguns momentos. A exceção é a conversa sobre cotas raciais, que irrompe em fala bastante forçada, quase um discurso, de Luiza. Trata-se, porém, de pequeno senão em um filme necessário. Sobretudo nesse momento em que o país parece cindido, fechado ao diálogo.

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