03/08/2018 - 21:02

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Quatro décadas de informação e debate ao lado dos advogados

03/08/2018 - 21:02

Quatro décadas de informação e debate ao lado dos advogados

Criada em agosto de 1971, TRIBUNA repercutiu principais fatos políticos e jurídicos do Brasil, ajudando a contar a história da OAB e do próprio país

MARCELO MOUTINHO

O texto, em tom beletrista e fortemente adjetivado, ocupava toda a capa. Não ha-via manchete, fotos, o mínimo sinal de cor. E o alto da página estampava o título: Órgão de Divulgação. Foi assim que, em 11 agosto de 1971, nasceu a TRIBUNA DO ADVOGADO.

“Em suas quatro páginas, jamais sujeitas ao contágio político, o advogado encontrará amplo noticiário forense e da classe, além de crônicas opinativas, crítica sóbria e construtiva, reparos e aplausos, estes despidos do aparato consagrador, tão repudiado, hoje, pelo periodismo de cunho noticioso”, avisava a matéria de apresentação do jornal, na verdade um informe com tiragem de 18 mil exemplares e com conteúdo restrito a temas corporativos. Sua criação fora proposta pelo então conselheiro Benedito Calheiros Bomfim (ver box). Ao lado de Waldir Freitas de Castro, Paulo Costeira, Haroldo Lins e Silva e Roberto Carvalho de Mendonça, ele apresentara a proposta de instituição de um “boletim para veicular informações sobre as atividades dos órgãos congêneres, publicar ordens de serviço, resoluções administrativas, decisões judiciais, projetos de lei, relatórios de congressos jurídicos e outras matérias de interesse da classe”, como revela a ata da 1.519ª sessão do Conselho.

O nome TRIBUNA DO ADVOGADO só viria em 1976. Mas desde as primeiras edições, que tinham Serrano Neves como redator-chefe, o jornal serviu como caixa de ressonância das ações da OAB, ecoando, também, muitos episódios da história do país nas últimas quatro décadas. Fundada sob a sombra da ditadura militar, com a qual conviveu por 13 anos, a TRIBUNA retratou a luta da Ordem pelo restabelecimento da democracia, a denúncia do terrorismo de Estado, o apoio à convocação de uma Assembléia Constituinte e das Diretas Já, e a participação da Seccional no movimento pró-impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Sete anos do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, mas sem O protesto contra o estado das coisas, que incluía uma censura ferrenha, muitas vezes se deu de forma criativa. Em outubro de 1971, por exemplo, uma das páginas trazia o título nenhum texto embaixo. No mesmo ano, a TRIBUNA divulgou a campanha pela restituição do habeas corpus, suspenso pelo governo de Emílio Garrastazu Médici, e o desagravo da OAB/RJ a Sobral Pinto, intimado a prestar depoimento em um Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado contra um de seus clientes. Sobral se recusara a fazê-lo.

Em 1977, ano que marca o aparecimento dos primeiros anúncios publicitários no jornal, uma dos principais matérias foi a entrevista com o general Rodrigo Otávio Jordão Ramos, na qual ele pedia a revogação do Ato Institucional nº 5 (AI-5). A queda de braço com o governo militar teria mais um capítulo em 1978, quando, em reportagem sobre a VI Conferência Nacional dos Advogados, a TRIBUNA reproduziu, em título, a declaração do então presidente do Conselho Federal, Raymundo Faoro: “Só a democracia defende o interesse nacional”.

Foi nesse período que as subseções ganharam espaço exclusivo na publicação. O destaque, porém, continuava sendo o combate contra o regime de exceção. “A Constituinte é a melhor arma contra o terror”, dizia a manchete da edição especial de agosto de 1980, fechada às pressas pelo editor Leo Guanabara apenas algumas horas após o atentado a bomba que vitimou dona Lyda Monteiro. Em abril de 1981, ante a explosão de outra bomba, dessa vez no Riocentro, a TRIBUNA denunciou a “farsa jurídica” do IPM, no qual comissão instituída especialmente pela Ordem encontrou inúmeras falhas.

Três anos depois, o jornal relatava o apoio do Conselho à posição da OAB Federal em defesa da Emenda Dante de Oliveira, que propunha as eleições diretas para presidente do Brasil. Na esteira da campanha que tomou conta do país, a OAB/RJ engrossou o ato do dia 21 de março, na Candelária. Com o início da redemocratização, as páginas passaram a ser ocupadas por artigos e matérias que promoviam uma reflexão sobre os rumos do país. O futuro passava pela promulgação de uma Constituição cidadã, e o trabalho em prol de uma Assembleia Constituinte tornou-se prioridade para a Ordem.

De olho na Constituinte, que reuniu cientistas sociais, historiadores, filósofos e advogados. Nomes como Darcy Ribeiro, Leandro Konder, Antonio Houaiss, Millôr Fernandes, Fernando Lyra, Helio Neste sentido, a instituição promoveu, em 1985, o congresso Jaguaribe e Antônio Evaristo de Moraes, cujas ideias foram reportadas na TRIBUNA.

Já naquele tempo, o problema do desrespeito às prerrogativas era assunto. Em 1984, o jornal noticiou representação da OAB/RJ contra a juíza que enquadrou o então conselheiro Fernando Batista Freire por desacato a autoridade. Freire fora interpelado pela magistrada porque chupava uma bala durante a audiência e se negou a cuspi-la, já que “nenhuma lei o obrigava” a seguir tal procedimento.

A partir de 1985, a TRIBUNA ganhou caráter mais eclético, com seções dedicadas a esportes, cinema, música, literatura e TV. O cartunista Henfil e os jornalistas João Máximo e Sandro Moreyra foram alguns dos colaboradores daquele período, quando o jornal se caracterizava também por reportagens fora do âmbito estritamente jurídico, como as que retrataram as vidas do jogador Heleno de Freitas e do escritor João do Rio. Fez muito sucesso entre os leitores ainda a série sobre o caso Euclides da Cunha – sucessivas edições expuseram a íntegra das peças do processo sobre sua morte.

Na década de 1990, o jornal ganhou cores e, embora com perfil mais corporativo, abordou a participação da Ordem no movimento pelo impeachment e na campanha pela erradicação da fome no Brasil, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, além de registrar as mudanças tecnológicas que irrompiam com intensidade. Em novembro de 1996, as páginas centrais veiculavam reportagem sobre o começo da popularização da internet, explicando ao leitor o que afinal, era, a ainda incipiente rede virtual.

As sucessivas reformas gráficas, nesses 40 anos, procuraram manter a publicação sempre antenada com as tendências e necessidades do design. A última delas, feita em 2007, deu à TRIBUNA as feições atuais, que nesta edição, para marcar o aniversário, foram ainda mais suavizadas. Do pequeno boletim ao informativo que, hoje, chega a 28 páginas, com matérias sobre os mais relevantes acontecimentos do universo jurídico e político, muito tempo se passou. A gestão profissional, o visual contemporâneo e o aprimoramento do conteúdo não modificaram, porém, o espírito que viceja desde a primeira edição: o jornal continua sendo, em sua gênese, uma verdadeira tribuna para os advogados do Rio de Janeiro.


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