'A nação há de se reencontrar com seu passado'

 

"Que a nossa fala inicial seja em homenagem aos companheiros da luta, (..) injustiçados pela prisão ou pelo exílio. Todo tributo de nosso apreço aos homens e mulheres da resistência democrática (.....) que foram punidos pelo arbítrio, mas consagrados pela gratidão e pelo respeito nacional. (...) Nossa solidariedade mais fraterna aos órfãos de pais vivos, quem sabe? Mortos, talvez... Órfãos do talvez.... Órfãos do talvez e do quem sabe. As viúvas com maridos vivos, quem sabe? Mortos, talvez viúvas do quem sabe e do talvez".

 

As palavras acima, proferidas em 1977 pelo deputado federal Alencar Furtado, foram citadas por Wadih Damous na abertura de seu discurso na solenidade em que foi empossado como presidente da OAB/RJ, ao lado de toda a sua Diretoria e dos membros do Conselho Seccional. Wadih relembrou a assertiva de Furtado para fazer uma ponte com a situação do Brasil hoje. "Nesse momento, quando vemos com imensa tristeza que, no lapso de mais de 30 anos de história, os órfãos do talvez e do quem sabe, as viúvas do quem sabe e do talvez ainda se debatem nessas mesmas incertezas, a OAB, ousando desdizer o poeta Drummond, vem bradar que a injustiça há de se resolver. A nação há de se reencontrar com o seu passado, superando de vez o trauma que a impede de se conhecer plenamente, notadamente naqueles aspectos mais sombrios de sua alma", afirmou o presidente da Ordem na cerimônia realizada no dia 19 de janeiro no Museu Histórico Nacional.

 

Diante da urgência do tema, a OAB/RJ vai promover uma Campanha pela Memória e pela Verdade, cuja missão será a de contribuir para o debate nacional em torno do assunto, buscando as respostas que trarão paz ao país. "Iremos às ruas e aos meios de comunicação, às escolas e às universidades, às fábricas e às igrejas e aonde mais for preciso para dar o nosso quinhão nessa luta humanitária, ajudando, com a força de nossa imensa categoria, a promover o reencontro do Brasil com a sua História, por mais dolorosa que seja", adiantou Wadih.

 

O lançamento da campanha dominou o discurso do novo presidente, que abordou também as conquistas que os advogados tiveram nos últimos três anos, como o Recorte digital e o plano odontológico gratuito, garantindo que serão mantidas e aprofundadadas. Wadih salientou ainda a defesa das prerrogativas, que seguirá como uma das prioridades da gestão.

 

Antes de Wadih, falou o professor Ricardo Pereira Lira, que fez o discurso de saudação à nova Diretoria. Ele listou as realizações da Seccional em prol dos advogados no triênio passado e destacou a retomada do papel institucional da OAB/RJ. A cerimônia foi encerrada pelo então presidente do Conselho Federal da Ordem, Cezar Britto, que elogiou a primeira gestão de Wadih, lembrando que a relação da Seccional do Rio com a OAB Nacional foi de permanente parceria.

 

A posse solene foi prestigiada também pela secretária-geral do Conselho Federal, Cléa Carpi da Rocha, e pelo então tesoureiro da entidade (hoje presidente), Ophir Cavalcante Junior, além de presidentes de tribunais, desembargadores, parlamentares, membros natos da Ordem, autoridades do Poder Executivo estadual e membros de instituções representativas dos advogados, como o IAB e o Sindicato dos Advogados.