14/10/2016 - 14:47

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Dica do Mês: Poesia do assombro

14/10/2016 - 14:47

Dica do Mês: Poesia do assombro

MARCELO MOUTINHO
A obra de Wislawa Szymborska chegou tardiamente ao Brasil. Apenas em 2011 – portanto, 15 anos após a conquista do Prêmio Nobel de Literatura –, a escritora polonesa teve publicada aqui uma primeira coletânea de poemas. A informalidade de seus textos, nos quais os apontamentos sobre o cotidiano ou as grandes questões da ciência ou da história estão quase sempre coalhados de ironia, conquistou imenso rol de leitores, além da crítica.

Agora, a Companhia das Letras lança uma segunda antologia. Um amor feliz reúne 85 poemas. Traz, ainda, o discurso proferido por Szymborska na entrega do Nobel. Traduzidos por Regina Przybycien, que assina também o prefácio do livro, os textos estão organizados em ordem cronológica e abarcam sobretudo a produção da poeta no começo da carreira e no fim da vida – a escritora morreu em 2012.

“É denso e intrincado o bordado das circunstâncias. / O ponto da formiga na grama / A grama costurada à terra ”, dizem os versos de “Pode ser sem título”, apontando a gênese da poesia de Szymborska: o assombro perante o mundo, sobretudo diante das coisas miúdas, aparentemente ordinárias. 

No discurso do Nobel, instigante reflexão sobre o ofício do poeta, a escritora oferece outra chave para a própria obra. “Todo conhecimento que não gera em si novas perguntas logo se torna morto (...). Por isso valorizo tanto estas duas pequenas palavras: ‘não sei’”, afirma. Talvez não haja assertiva mais adequada a esses tempos de tantas certezas.

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