03/08/2018 - 21:03

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Preparação do Rio para Copa e Olimpíadas divide juristas entre críticas duras e elogios fartos

03/08/2018 - 21:03

Preparação do Rio para Copa e Olimpíadas divide juristas entre críticas duras e elogios fartos

Tese de que eventos esportivos não eram prioridade é confrontada com defesa dos benefícios que poderão legar á cidade

“Estamos pagando a conta de uma festa para qual fomos convidados, mas não decidimos se queremos de fato participar. Essa não era para ser a prioridade do país”. A afirmação do professor e ex-coordenador do Grupo de Pesquisa, Gestão Urbana e Direito Ambiental do Programa de pós-graduação em Direito da Uerj Ronaldo Coutinho, deu o tom do painel Jogos Olímpicos e uma nova proposta para a ocupação do espaço fluminense. O debate foi acalorado: à crítica de Coutinho se confrontaram os argumentos de quem defende a importância do legado das construções para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Como é o caso do auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e advogado responsável pelas negociações da Fifa para a copa de 2014, Francisco Müssnich. Ele discordou frontalmente das declarações do professor em relação aos jogos. Para Müssnich, um evento que trará milhões de turistas não pode ser considerado mera exploração esportiva. “Esta é uma excelente oportunidade de modernização para o país”, disse.

Na mesma linha de raciocínio, o vereador e conselheiro da OAB/RJ Roberto Monteiro defendeu que algumas das obras de infraestrutura realizadas no Rio, pensadas a partir dos Jogos Olímpicos, serão de suma importância para a população, como, por exemplo, os corredores de tráfego Transoeste, Transcarioca e Transolímpica. “A cidade não será a mesma após as Olimpíadas”, frisou.

Na visão do vereador, por conta dos jogos, o Rio será uma cidade mais cosmopolita e com visibilidade turística infinitamente maior. Para Monteiro, só isso já justificaria o empenho do governo em viabilizar os eventos. Concordando, Müssnich argumentou que as obras não são pontuais, e vêm sendo feitas dentro de um planejamento estratégico.

As ponderações foram rebatidas por Coutinho, que questionou até que ponto o Brasil precisa desses estímulos esportivos para realizar obras cuja necessidade sempre se mostrou patente: “Qual foi o legado do Pan Americano para a cidade? E mais: a Fifa nunca demonstrou preocupação com a herança a ser deixada nos países sede. Por que ainda vendem para a população que vai ser boa a construção de um estádio em Cuiabá, gastando-se milhões de reais onde nem ao menos existe futebol profissional? Cito apenas um dos exemplos faraônicos para o que estamos passando e sobre os quais ninguém se manifesta”.

De acordo com Coutinho, são muitos os absurdos praticados em nome dos jogos e do desenvolvimento enquanto a população sofre com a carência de obras emergenciais como de manutenção de hospitais e de construção de novas escolas. “No início, a proposta defendida era uma parceria público-privada, em que ficaria a cargo do dinheiro privado a construção dos estádios. Não é isso o que estamos vendo”, declarou, indagando: “E os outros compromissos firmados com o povo, ninguém se preocupa em cumprir?”

Coordenador da mesa, o presidente da OAB/Pernambuco, Henrique Mariano, fez coro à fala de Coutinho, citando como exemplo a construção de um estádio em São Lourenço da Mata. “Até hoje me pergunto o porquê de escolherem São Lourenço para essa construção. Não acredito que os torcedores de Náutico, Sport e Santa Cruz irão sair de Recife para assistirem aos jogos de seus clubes”.

Coutinho ironizou a liberação da venda de bebidas alcoólicas durante os jogos da Copa. “Há uma lei clara que proíbe a venda de bebidas com álcool dentro de estádios. Mas na Copa será diferente, está liberado. O fato é que ninguém se dá conta de que isso só será possível, porque, olhem a coincidência, o maior patrocinador da Fifa é a cervejaria que venderá livremente durante os jogos”, afirmou.


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