24/05/2023 - 15:57 | última atualização em 24/05/2023 - 17:52

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OABRJ lança livro com relatos e análises jurídicas sobre vida e obra de Carolina Maria de Jesus

No evento, Conceição Evaristo e Marinete da Silva receberam medalha que leva o nome da escritora

Biah Santiago

Em um Plenário Evandro Lins e Silva preenchido de falas contra o racismo e de honra à ancestralidade, que contou com a presença de figuras de expoentes da representação negra no país, a OABRJ lançou na noite de terça-feira, dia 23, o livro ‘Trazendo Carolina Maria de Jesus para o Direito’, publicação coordenada e organizada pela secretária-adjunta da Seccional e presidente da Associação Carioca dos Advogados Trabalhistas (Acat), Mônica Alexandre Santos.

Diretores da OABRJ, presidentes de subseções da Ordem de diversas regiões do estado e autoridades de instituições públicas e privadas prestigiaram o evento. Para assistir ao encontro na íntegra, acesse o canal da Ordem no YouTube. 


“Hoje é um dia de alegria, satisfação e gratidão, pois este projeto é fruto de um trabalho hercúleo, cujo o encorajamento da Diretoria da Ordem e das coautoras, além da competência dos profissionais envolvidos, materializou uma obra baseada na representatividade e liberdade, feita em homenagem a uma mulher que viveu a pobreza”, expressou Mônica no início do evento.



Em seu discurso, a secretária-adjunta da OABRJ relembrou a trajetória de vida de Carolina Maria de Jesus e dos recentes ataques de racismo sofridos pelo jogador Vinícius Júnior durante uma partida pelo campeonato espanhol no último domingo, dia 21. “Trazemos estes assuntos e as falas de Carolina em meio a uma batalha que travamos junto aos nossos irmãos. O apagão do Cristo Redentor, feito em protesto contra o racismo sofrido pelo craque brasileiro, significa um ato político”.

“Somos parte da advocacia, militamos pela Justiça e pela igualdade em nossas vidas e na nossa profissão. Entre Carolina Maria de Jesus e Vinícius Júnior temos um intervalo de tempo de 70 anos. E o que mudou? A pobreza, a miséria, a injustiça social, as prisões ainda são negras. Nós, advogadas negras, estamos aqui para perpetuar a luta deixada pela escritora e travada em situações como a enfrentada pelo jogador”, ponderou Mônica.


“Tenho e desejo que tenham orgulho do lugar que ocupam não apenas como advogadas, mas como defensoras do Direito. Os livros libertaram Carolina da opressão e a ajudaram a construir sua própria voz. Por mais Carolinas e Vinicius em nossa sociedade, para que consigamos eliminar o racismo estrutural que sentimos todos os dias”.



Ao lado de Mônica, compuseram a mesa do evento a Diretoria da Seccional: o presidente, Luciano Bandeira; a vice-presidente, Ana Tereza Basilio; e o tesoureiro, Marcello Oliveira; além do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Alexandre Scisinio; o advogado e detentor da Medalha Ruy Barbosa do Conselho Federal da OAB, Carlos Roberto Siqueira Castro; e a presidente da Academia Carioca de Direito (ACD), Rita Cortez.

“A Ordem não cuida apenas da advocacia, do acesso à Justiça e da melhoria do Estado democrático de Direito. Temos a missão e o compromisso não só com a democracia, mas de respeito aos direitos humanos e de atender demandas sociais, já que somos a principal voz da sociedade civil”, considerou o presidente da OABRJ, Luciano Bandeira. “Cumprindo essa vocação, de falar por muitos que não podem exercer esse ato simples, nos movimentamos para realizar esse lançamento fundamental para tratarmos de pautas raciais”.

Por mais Carolina de Jesus na sociedade e no meio jurídico


A obra ‘Trazendo Carolina Maria de Jesus para o Direito’, composta por artigos de advogadas negras, provoca uma reflexão sob a ótica do Direito entremeada à história e relatos da escritora, compositora e poetisa brasileira sobre garantia de direitos e cidadania. 

O exemplar compõe-se de relatos expostos nas obras de Carolina Maria de Jesus, que ilustrou em seus textos a realidade vivida por mulheres e famílias pobres que sofrem discriminação em todas as áreas da vida. Radicada na favela do Canindé, em São Paulo, a autora é considerada pioneira e importante figura para a literatura do Brasil, sendo uma das primeiras escritoras negras do país.

Carolina Maria de Jesus tornou-se popular após a publicação de seu livro ‘Quarto de despejo: diário de uma favelada’, na década de 1960, e também por seu posicionamento político ao abordar temas como pobreza, desigualdade e discriminação racial.


Durante a solenidade, foi entregue a Medalha Carolina Maria de Jesus, concedida pela Associação Carioca dos Advogados Trabalhistas à linguista e escritora Conceição Evaristo e à advogada e presidente do Instituto Marielle Franco, Marinete da Silva - mãe da vereadora assassinada em 2018 -, agraciadas com a outorga em nome da luta pela representatividade negra no Brasil. 

Outras autoridades também foram condecoradas com moções, representadas pela deputada estadual Veronica Lima e pelo conselheiro consultivo do Comitê do Cais do Valongo, babalawo Ivanir dos Santos.

“Ecoar e incorporar a voz e a escrita de Carolina nas páginas da OABRJ representa um grande passo a partir da perspectiva de uma mulher negra e pobre, que traz sua sabedoria e episteme para as classes populares e para que a advocacia repense o Direito brasileiro”, elucidou Evaristo. 


“Só sobrevivemos nesta sociedade, apesar de todas as diferenças, com a criação de táticas de enfrentamento para permearmos espaços mandatários, majoritariamente, por pessoas brancas. A aprendizagem deixada por Carolina não passa pelo currículo do Direito. Ela nos ensina com sua experiência de vida, com o cotidiano, com a coragem e com a luta. Carolina Maria de Jesus foi precursora em sua escrita, construindo o processo de letramento a partir da própria vida. Fica aqui a nossa exigência e nosso atrevimento de que mais instituições brasileiras como a OABRJ sejam comprometidas com a democracia e com os direitos humanos e escutem a toda uma comunidade de pessoas negras, LGBTs, indígenas e outros povos para promover Justiça”.


Seccional inclui nomes da advocacia preta em galeria de baluartes



Em tempo, o encontro  promoveu a inclusão de nomes da advocacia preta na galeria de fotos de baluartes do meio jurídico nacional, inaugurada em novembro de 2022 na sede da OABRJ.

“Após um evento tão potente, é significativo acrescentarmos o nome de novos advogados e advogadas importantes para a população negra. Esta parede é permanente e possui vida para somar cada vez mais nomes que nos ajudam a contar a história da advocacia preta nesta Seccional”, destacou a secretária-adjunta da Seccional, Mônica Alexandre.



A parede, que já abrigava retratos de personalidades negras na história da advocacia e do país, como o patrono da abolição da escravidão do Brasil, Luís Gama; o fundador do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Francisco Gê Acaiaba de Montezuma; a primeira advogada negra a presidir a Comissão OAB Mulher RJ, Zélia Welman; o ex-vice-diretor de Igualdade Racial da OABRJ Nélson Joaquim e a advogada, sindicalista e política Almerinda Farias Gama, agora conta com novos homenageados, são eles: 

Mulher preta escravizada, reconhecida pelo Conselho Federal como a primeira advogada do Brasil, Esperança Garcia; a primeira mulher a presidir a Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat), entidade que ajudou a fundar, em 1979, Moema Baptista; o advogado, jornalista, escultor e escritor Alaôr Eduardo Scisnísio; a advogada e uma das fundadoras da Comissão OAB Mulher RJ Joselice Aleluia Cerqueira de Jesus; a conselheira benemérita do Renascença Clube e ex-procuradora federal que lutou contra a discriminação racial em nosso estado, Sebastiana Arruda da Costa; o ex-presidente do IAB, que ocupou o cargo entre 2004 e 2006, Celso Soares; o advogado que lutou pela inclusão do negro na sociedade brasileira e membro do IAB, Oswaldo Barbosa; e o advogado, ferroviário, político, professor e sindicalista brasileiro, Demisthóclides Batistinha.

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